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Geólogo e professor aposentado, trabalho este espaço como se participasse da confecção de um imenso tapete persa. Cada blogueiro e cada sitiante vai fazendo o seu pedaço. A minha parte vai contando de mim e de como vejo as coisas. Quando me afasto para ver em perspectiva, aprendo mais de mim, com todas as partes juntas. Cada detalhe é parte de um todo que se reconstitui e se metamorfoseia a cada momento do fazer. Ver, rever, refletir, fazer, pensar, mudar, fazer diferente... Não necessariamente melhor, mas diferente, para refazer e rever e refletir e... Ninguém sabe para onde isso leva, mas sei que não estou parado e que não tenho medo de colaborar com umas quadrículas na tecedura desse multifacetado tapete de incontáveis parceiros tapeceiros mundo afora.

sábado, 24 de agosto de 2013

Corem diante desta negra, doutores! Ela tem o que os senhores perderam
(24ago2013)

Por Fernando Brito no sítio Tijolaço


“Somos médicos por vocação, não nos interessa um salário, fazemos por amor”, afirmou Nelson Rodrigues, 45.

“Nossa motivação é a solidariedade”, assegurou Milagros Cardenas Lopes, 61

“Viemos para ajudar, colaborar, complementar com os médicos brasileiros”, destacou Cardenas em resposta à suspeita de trabalho escravo. “O salário é suficiente”, complementou Natasha Romero Sanches, 44.

Poucas frases, mas que soam  como se estivessem sendo ditas por seres de outro planeta no Brasil que vivemos.

O que disseram os primeiros médicos cubanos do  grupo que vem para servir onde médicos brasileiros não querem ir deveria fazer certos dirigentes da medicina brasileira reduzirem à pequenez de seus sentimentos e à brutalidade de suas vidas, de onde se foi, há muito tempo, qualquer amor à igualdade essencial entre todos os seres humanos.

Porque gente que não se emociona com o sofrimento e a carência de seus semelhantes, gente que se formou, muitas vezes, em escolas de medicina pagas com o imposto que brasileiros miseráveis recolheram sobre sua farinha, seu feijão, sua rala ração, gente que já viu seus concidadãos madrugando em filas, no sereno, para obter um simples atendimento, gente assim não é civilizada, não importa quão bem tratadas ejam suas unhas, penteados os seus cabelos e reluzentes seus carros.

Perto desta negra aí da foto, que para vocês só poderia servir para lavar suas roupas e pajear seus ricos filhinhos, criados para herdar o “negócio” dos pais, vocês nao passam de selvagens, de brutos.

Vocês podem saber quais são as mais recentes drogas, aprendidas nos congressos em locais turísticos, custeados por laboratórios que lhes dão as migalhas do lucro bilionário que têm ao vender remédios. Vocês podem conhecer o último e caro exame de medicina nuclear disponível na praça a quem pode pagar. Vocês podem ser ricos, ou acharem que são, porque de verdade não passam de uma subnobreza deplorável, que acha o máximo ir a Miami.

Mas vocês são lixo perto dessa negra, a Doutora - sim, Doutora, negra, negrinha assim! - Natasha é, eu lhes garanto.

Sabem por que? Por que ela é capaz de achar que o que faz é mais importante do que aquilo que ganha, desde que isso seja o suficiente para viver com dignidade material. Porque a dignidade moral ela a tem, em quantdade suficiente para saber que é uma médica, por cem, mil ou um milhão de dólares.

Isso, doutores, os senhores já perderam. E talvez nunca mais voltem a ter, porque isso não se compra, não se vende, não se aluga, como muitos dos senhores, para manter o status de pertenceram ao corpo clínico de um hospital, fazem com seus colegas, para que dêem o plantão em seus lugares.

Os senhores não são capazes de fazer um milésimo do que ela faz pelos seres humenos, desembarcando sob sua hostilidade num paìs estrangeiro, para tratar de gente pobre que os senhores nao se dispõem a cuidar nem querem deixar que se cuide.

Os senhores nao gritaram, não xingaram nem ameaçaram com polícia aos Roger Abdelmassih, o estuprador, nem contra o infleiz que extorquiu R$ 1.200 para fazer o parto de uma adolescente pobre, nem contra os doutores dos dedos de silicone, nem contra os espertalhóes da maternidade paulista cuja única atividade era bater o ponto.

Eles não os ameaçaram, ameaçaram apenas aos pobres do Brasil.

Estes aì, sim, estes os ameaçam. Ameaçam a aceitação do que vocês se tornaram, porque deixaram que a aspiração normal e justa de receber por seu trabalho se tornasse maior do que a finalidade deste próprio trabalho, porque o trabalho é um bem social e coletivo, ou então vira mero negócio mercantil.

É isto que estes médicos cubanos representam de ameaça: o colocar o egoísmo, o consumismo, o mercantilismo reduzidos ao seu tamenho, a algo que não é e nem pode ser o tamanho da civilização humana.

Aliás, é isso que Cuba, há quase 55 anos, representa.

Um paìs minùsculo, cheio de carências, que é capaz de dar a mão dos médicos a este gigante brasileiro.

E daí que eles exportem médicos como fonte de receita? Nós não exportamos nossos meninos para jogar futebol? O que deu mais trabalho, mais investimento, o que agregou mais valor a um país: escolas de medicina ou esteiras rolantes para exportar seus minérios?

É por isso que o velhissimo Fidel Castro encarna muito mais a  juventude que estes yuppies coxinhas, cuja vida sem causa  cabe toda dentro de um cartão de crédito.

Eu agradeço à Doutora Natasha.

Ela me lembrou, singelamente, que coração é algo muito maior  do que aquele volume que aparece, sombrio, nas tantas ressonâncias, tomografias e cateterismos porque passei nos últimos meses.

Ele é o centro do progresso humano, mais do que o cérebro, porque é ele quem dá o norte, o sentido, o rumo dos pensamentos e da vida.

Porque, do contrário, o saber vira arrogância e os sentimentos, indiferença.

E o coração, como na música de Mercedes Sosa, una mala palabra.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Em Portugal, médicos cubanos são um problema. Ninguém quer que eles se vão
(22ago2013)

Por Fernando Brito no sítio Tijolaço

Se o caro amigo internauta fizer uma pesquisa rápida no Google verá que o que pode acontecer aqui no Brasil , no futuro, com os médicos cubanos que o Governo Federal está trazendo para atuar em municìpios onde não há profissionais brasileiros dispostos a atuar.

Os problemas não são de incapacidade profissional ou de dificuldade de comunicação.

São que os contratos firmados pelo governo português estão acabando e alguns deles terão de ir embora, para desespero das populações e dos prefeitos do Alentejo, do Algarve e do Ribatejo, regiões pobres que estão ameaçadas de ficarem, outra vez, sem médicos.

O portal Sul Informação noticia:
Os cinco médicos cubanos que prestavam serviço de consultas no concelho de Odemira terminaram os seus contratos e regressaram ao seu país, deixando mais de 14 mil utentes sem médico de família.
Esta situação, segundo denuncia, em comunicado, a Câmara Municipal de Odemira, «está a provocar a rotura dos serviços médicos em Odemira, S. Teotónio, Sabóia e Vila Nova de Milfontes e o descontentamento da população e da autarquia, que têm vindo a expressar o seu descontentamento junto dos responsáveis locais, regionais e governamentais sem qualquer sucesso».
A autarquia sublinha, no comunicado a que oSul Informação teve acesso, que no litoral Alentejano prestavam serviço 16 médicos cubanos, cinco dos quais no concelho de Odemira e não foram substituídos, isto apesar de há alguns meses os autarcas terem sido alertados pela direção do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) do Litoral Alentejano para a necessidade de garantir a substituição dos médicos cubanos que terminavam contrato no final do ano de 2011.

As prefeituras são as maiores defensoras do trabalho dos profissionais cubanos, pelos trabalhos pró-ativos de saúde pública que realizam.

Até o presidente da Ordem dos Médicos de Portugal, apesar da cantilena de que os médicos estrangeiros são “superiores” em qualidade profissional, reconhece:
“Naturalmente os cidadãos que receberam os médicos estrangeiros ficaram satisfeitos. Porque até aí não tinham médico e passaram a ter. Não com as competências adequadas e desejáveis, mas passaram a ter um médico.”
Pois é, né, doutor…

Agora, para quem quiser se aprofundar mais no “choque cultural” representado pelos médicos estrangeiros em Portugal, recomendo a leitura de um trabalho de duas sociólogas e uma psicóloga na Revista Iberoamericana de Salud y Ciudadanía, coordenada pela Universidade do Porto.

Ali, são ouvidos médicos cubanos, espanhóis e colombianos que foram trabalhar em Portugal e que falaram sobre essa experiência. Trascrevo apenas um pequeno depoimento, de uma médica uruguaia que está por lá:
Tú tienes que tener un segundo para mí, dos minutos aunque sea de camino, de acercarte al primer familiar que está y decirle „señora, está así, hicimos esto, la cosa está así, lo voy a llevar a tal hospital, quédese tranquila, yo lo voy a acompañar‟. Es lo mínimo. Los médicos portugueses, entran, salen, meten el tipo y se van. Yo al principio decía „pero esto es inhumano!‟ […] Yo hablo con los familiares. Eso les llamó mucho la atención a los enfermeros y a los TAE [Técnicos de Ambulância de Emergência], yo siempre busco un minuto […]. Hay cosas que son de sensibilidad humana porque el paciente no es una cosa o un objeto. (E2, médica uruguaia)
Talvez tenhamos alguma coisa a aprender por aqui, não é?

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

O Sistema Venezuelano ou ‘Uma tormenta tropical sobre Salzburgo’
(21ago2013)

José Antonio Abreu, o criador do El Sistema | Foto: Harvard University

Por Milton Ribeiro, no Sul 21

El Sistema (“O Sistema”) é um modelo de ensino musical que foi criado na Venezuela por José Antonio Abreu. Consiste em um projeto de educação musical público gratuito e altamente capilarizado, voltado a crianças e jovens de todas as camadas sociais.

El Sistema é gerido pela Fundación del Estado para el Sistema Nacional de las Orquestas Juveniles e Infantiles de Venezuela (FESNOJIV), órgão estatal venezuelano responsável pela manutenção de mais de 125 orquestras (sendo 30 sinfônicas) e coros juvenis, e pela educação de mais de 400.000 estudantes, em 180 núcleos distribuídos pelo território venezuelano.

Segundo a definição da própria FESNOJIV, “El Sistema visa organizar sistematicamente a educação musical e promover a prática coletiva da música através de orquestras sinfônicas e coros, como meio de organização e desenvolvimento das comunidades”. Evidentemente, a importância do método não se limita a seus excelentes resultados artísticos. A maior parte dos jovens músicos de El Sistema provém das camadas mais carentes da população que, na música, encontra uma via de desenvolvimento intelectual e de ascensão social. El Sistema tem como objetivo principal a proteção social dos jovens mais pobres e também a sua reabilitação, nos casos de envolvimento com práticas criminosas.

A maior parte dos jovens do El Sistema provém das camadas mais carentes da população | Foto: FESNOJIV

José Antonio Abreu, economista e músico, fundou El Sistema em 1975, com o nome de Acción Social para la Música, e tornou-se seu diretor. Desde então, conseguiu desenvolver o projeto com o apoio de instituições governamentais que, ao longo de quase 40 anos, foram ora progressistas, ora conservadoras. O governo de Hugo Chávez foi o mais generoso com El Sistema, chegando a bancar quase inteiramente seu orçamento.

O projeto é ligado ao Ministério da Família, do Esporte e da Saúde, não ao Ministério da Cultura.

Alguns de seus estudantes tornaram-se estrelas internacionais da música erudita, a exemplo dos maestros Gustavo Dudamel, Dietrich Paredes, Christian Vasquez e Diego Matheuz, do contrabaixista da Filarmônica de Berlim Edicson Ruiz, do violista Joen Vazquez, do flautista Pedro Eustache, do violinista e maestro Edward Pulgar e da maestrina Natalia Luis-Bassa.

Em 2004, foi feito um documentário sobre El Sistema, dirigido por Alberto Arvelo, intitulado Tocar y Luchar. O filme obteve vários prêmios, como o de melhor documentário no Cine Las Americas International Film Festival e no Albuquerque Latino Film Festival. Em 2008, foi produzido um outro filme, El Sistema, dirigido por Paul Smaczny e Maria Stodtmeier.

A seguir, traduzimos uma embasbacada matéria de Jesús Ruiz Mantilla para o El País, de Madrid. Trata-se de uma reportagem a respeito de uma excursão que uma das orquestras do El Sistema — a Orquestra Sinfônica Nacional Infantil da Venezuela –  fez ao Festival de Salzburgo, dias trás.

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Tormenta Tropical em Salzburgo

Marina Mahler tem medo de voar. Por isso, até ontem, a neta do grande compositor austríaco Gustav Mahler não pudera confirmar a veracidade das histórias que lhe chegavam da Venezuela. Lá, contaram-lhe, uns meninos de 8 a 14 anos eram capazes de interpretar a Primeira Sinfonia de seu avô. E o faziam com um vigor, um entusiasmo e um senso de estilo que muitos profissionais desejariam para si.
Porém, ontem pela manhã, no Festival de Salzburgo, ela mesma pode assistir o milagre com os olhos marejados. “A música transforma, é verdade. E essas crianças alcançaram e têm em comum com meu avô as emoções necessárias para interpretá-lo”, afirmou Marina.

Ela sabe do que fala. Quando Ruben Rodriguez, de 13 anos, primeiro contrabaixo da Orquestra Sinfônica Nacional Infantil da Venezuela atacou o terceiro movimento da Titan, esta dança doce e assustadora que Mahler compôs com a memória traumática, trazida de sua infância, de um enterro de uma criança, os outros 207 outros músicos da orquestra o acompanharam com inusitada experiência.

Dudamel com a Orquestra Simón Bolívar | Foto: FESNOJIV

Talvez eles saibam como ninguém o significado de uma facada que mata um membro de sua família ou um colega nos bairros em que vivem, na periferia de Caracas, Maracaibo, Barquisimeto, Victoria, Coro, Cumaná, Valência… Locais de onde saíram todos estes presentes e futuros músicos. Os que ontem se apresentaram com Simon Rattle, neste templo da música ocidental e na presença de José Antonio Abreu, são, em sua maioria, de extração social muito pobre.

O que ocorreu nesta edição do Festival de Salzburgo pareceu a todos um fenômeno, diz o chefe do evento, Alexander Pereira, com a concordância de Rattle. “Este é o mais importante evento educacional que vi, não apenas nos últimos anos, mas em toda a minha vida”, comentou o diretor da Filarmônica de Berlim.

E o público concordou, comparecendo em massa às 16 aparições que músicos venezuelanos fizeram este ano em Salzburgo: a primeira com a Orquestra Simon Bolívar, depois, com o Coro de Mãos Brancas — composto por surdos-mudos e portadores de necessidades especiais – e hoje com a atuação da Orquestra Infantil.

O que ocorreu foi, nem mais nem menos, uma avalanche de talento tropical sobre a mais pura tradição europeia — e ainda por cima na cidade de Mozart. Algumas décadas atrás, ninguém poderia imaginar que um fato assim fosse possível. Foi a confirmação de um fenômeno que atrai a atenção mundial: o chamado “O Sistema”.

O maestro titular da Filarmônica de Berlim, Simon Rattle | Foto: Reprodução

A história do Sistema desde os anos setenta até hoje é a história de um desafio constante, de um desafio lançado contra uma série de convenções e convicções. É um conto com final feliz que envolve ascensão social e fé irrevogável nas pessoas. “Eu não sei se o Sistema pode ser implementado em qualquer país”, diz Rattle. “Eu acho que é mais fácil em locais com fortes raízes musicais. Ele pode funcionar em locais como África do Sul, Venezuela ou Finlândia… Mas, pensando bem, talvez seu êxito seja devido aos esforços de um homem. A África do Sul contou com Mandela; a Venezuela, com Abreu “, assegura o maestro de Liverpool.

É este o campeonato onde joga Abreu. O campeonato dos grandes líderes humanitários, acima de governos e dos buracos negros da história. A partir de agora, acredita Abreu, nenhum país deixará de duvidar da eficácia pedagógica do que foi implantado por ele.

Os resultados sociais são espetaculares. A música dá sentido à vida das crianças, cria uma forte identidade e um orgulho especial, essencial para enfrentar as duras realidades que os cercam. Se isso não fosse o suficiente, a estes resultados sociais se unem os artísticos. Quando uma criança prefere passar horas e horas praticando em um núcleo em vez de sair para a rua, onde o aguarda uma realidade de crimes, armas de fogo e exclusão social, o Sistema se justifica. Como se não bastasse, produz artistas (muitos) de forma natural.

Assim foi sido demonstrado na cidade austríaca. Simon Rattle chama “O Sistema” de “O Vírus”, uma doença contagiosa que toma os meninos e os empurra na direção de suas próprias capacidades individuais e coletivas.

A joia de Abreu é Gustavo Dudamel, joia adotada na Europa pelo próprio Rattle e sobre o qual é colocado o favoritismo para substituir o inglês na Filarmônica de Berlim em 2018. Sobre isso, Rattle é cauteloso: “A Orquestra Filarmônica de Berlim é absolutamente democrática, eles escolhem os regentes de forma soberana”. Mas não é isenta de interesses e ataques como os que ele mesmo recebeu no início de sua gestão por partidários de Daniel Barenboim. Às vezes, os membros do conclave berlinense assemelham-se ao Vaticano. “Sim, mas com a vantagem de que eles são capazes de escolher um papa muito mais jovem”, brinca Rattle.

A super estrela Gustavo Dudamel comandando a Orquestra Filarmônica de Los Angeles

Não apenas Dudamel ganhou o mundo. Sem terem completado 30 anos, Diego Mattheuz ou Christian Vasquez já estão fora da órbita de Abreu. E, nesta vitrine de Salzburg, Abreu teve outra surpresa: o maestro Jesus Parra, de 18 anos.

Ontem, Parra estreou a convite de Rattle. Três anos atrás, em Caracas, era um garoto tímido e doce seguia os ensaios do grande Rattle com partituras na mão. Estava ansioso por aprender. Parra regeu com a Orquestra Infantil a Suíte do balé Estância, do compositor argentino Alberto Ginastera, uma celebração da cultura gaúcha com pontos de contato com o nacionalismo do húngaro Bartók.

Parra encarou a partitura com vigor e maturidade, dominando cada um de seus aspectos virtuosos, domando os ares pampeanos, fundindo Argentina e Venezuela e contagiando um público atônito. Foi empolgante. Para se ter uma ideia do entusiasmo, foram 10 minutos de aplausos de uma plateia germânica, que não deixou de fazê-lo até que o último dos músicos deixou o palco.

Para avaliar o sucesso dos venezuelanos em Salzburgo, talvez valha a pena repetir que Marina Mahler tem medo de voar, mas assegurou a este repórter que em pensa superá-lo a fim de entrar num avião para a Venezuela, a fim de conhecer pessoalmente os locais de onde emana a música de ontem que, disse ela, “levaria meu avô às lágrimas”.

Jesus Parra em ação | Foto: FESNOJIV

Traduzido livremente por Milton Ribeiro


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Em março deste ano, postei aqui um vídeo da Orquestra Jovem da Venezuela interpretando Mahler. Confira clicando aqui.

E acrescento mais um aperitivo do trabalho venezuelano: Trecho do concerto de 20 de abril de 2009, na Sala Sinfônica do Auditório Nacional da Música em Madrid: Gustavo Dudamel rege o Mambo das Danaçs Sinfônicas de West Side Story, de Leonard Bernstein.




No vídeo a seguir, vê-se Jesús Parra dirigindo a Orquestra Sinfônica do Conservatório de Música Simon Bolívar no VI Festival de Juventudes Homenagem a Beethoven, organizado por Bancaribe.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Ao Ego com carinho
(19ago2013)

Por Rosam Cardoso, reproduzido do blog De Coração a Coração


Agradeço ao ego tudo que, ao longo desta existência, lutou para proteger, orientar, organizar e defender. A tudo que desde tenra idade construiu, atitude após atitude, num comportamento fiel e dedicado de prestação de serviço para o bem comum do meu ser.

Agradeço de coração a refinada teia de medos, suspeições e receanças que compuseram o arcabouço de defesas perante o mundo externo e interno, arquitetadas junto aos sentidos e as glândulas – guardiãs do portal das ameaças e gestoras hormonais dos líquidos e emoções.

Rendo graças a cada momento de timidez, ansiedade, sudorese, angústia, falta de ar, taquicardia, irritabilidade, raiva, ressentimento, constipação, ambivalência, indecisão, arrogância, orgulho, desmaio, apatia, ciúme, controle, teimosia..., a cada estado instaurado no decorrer de minha criação e que me defendeu das consequências da falta de presença, de compreensão, de amor e de perigo nas esquinas e becos das relações.

Agradeço-lhe por cingir todo preconceito, moral, preceitos e rotulações que nortearam a forma de como li o mundo e como me comportei diante dele.

Compreendo que as memórias foram se acumulando uma a uma e se transformaram em sólida armadura, a ponto de me tornar previsível e rotineiro. Agradeço também por isso. Por saber que o ego nada mais quer do que minha segurança.

Regozijo-me por sua fidelidade em cada instante em que meus pais não tiveram paciência, disponibilidade e transferiram para mim suas dores, decepções, frustrações e projetaram seus sonhos e expectativas. Eles só sabiam amar na dimensão de sua consciência. E como me amaram! Também eles não foram despertados ao amor próprio e deram o que, para eles, era o melhor. Entre tapas e beijos, o sumo, proporcionou-me a oportunidade de continuar.

E tu, meu ego, por mais que soubesses temperar minha armadura emocional e racional, sobraram frestas por onde os fluidos do meu ser autêntico puderam almejar libertar-se como alma desnuda.

Sei que sua história remonta ao primeiro instante em que comecei a ser “eu”. Quando o real não era a realidade, mas o real de realeza, de príncipes e princesas alados na magia do devir, quando a memória ainda guardava vibrações amnióticas e tudo era mistério.

Sei que tu és a joia arquitetada pela natureza para resguardar minha sobrevivência a todo custo, mesmo que para isso tenhas que escamotear meus sonhos, desejos e vontades.

Por tudo isso, honro-te como meu parceiro destemido.
Amado amigo que suplantou todos os perigo para me trazer até aqui.

Agora, velho companheiro, despeço-me de ti como controlador absoluto e coloco-te em lugar de honra no altar de minha consciência. Todos os ensinamentos foram assimilados e o que era ego, transformou-se em eco de minha essência e está em estreito elo com minha alma. Agora fazes parte, não és a parte que domina a minha mente.

Antes pensava ser complexa a maturidade, mas hoje compreendo que quanto mais maduro, mais simples, mais direto, mais aberto, mais empreendedor, mais sincero, mais afetivo, mais compassivo, mais intuitivo, mais livre para viver e transformar a insegurança do “eu preciso”, na assertividade do “Eu Sou”.

sábado, 17 de agosto de 2013

A CPTM virou um balcão de negócios do governo tucano
(17ago2013)

Por Joaquim de Carvalho no sítio Diário do Centro do Mundo

Como a estatal paulista ficou refém de gigantes como Siemens e Alstom


Trem da Alstom comprado em 2010 e até hoje não usado

Enquanto a imprensa divulga a formação de cartel para o fornecimento de equipamentos e serviços para as empresas do chamado sistema metro-ferroviário do Estado de São Paulo, a estatal paulista CPTM saiu às compras, com dinheiro do contribuinte.

No dia 3 de julho de 2013, o Diário Oficial do Estado publicou o aviso de homologação da concorrência número 8085132011. Com esta publicação, sabe-se que a CPTM comprará de dois consórcios internacionais 65 trens pelo valor de R$ 1,8 bilhão.

Esta é uma das maiores compras da história da empresa que nasceu da fusão das estatais Fepasa, paulista, e CBTU, federal, em 1992, no rastro de um programa que o governo do então presidente Fernando Collor chamava genericamente de enxugamento da máquina pública.

Ao contrário do que ocorreu com outras empresas públicas, a CPTM ficou sob controle do governo do Estado. “Não foi privatizada, mas quem dá as cartas são empresas privadas e, pior, gigantes estrangeiras”, diz Rogério Centofanti, psicólogo de formação, assessor do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias da Zona Sorocabana, que atua nesta área há mais de 30 anos.

“É como se o estado fosse o dono da vaca, mas quem mama são empresas como a Siemens, a Alston e a CAF”, acrescenta Éverson Craveiro, presidente do Sindicato.

Essa simbiose começou em 1997, quando, sob administração de Mário Covas, o governo do estado aceitou a doação de 48 trens da Renfe, a estatal espanhola de trens.

Segundo Craveiro, foi um presente de grego. “Os trens tinham ar condicionado e música ambiente, mas, para os padrões europeus, não serviam mais, iriam virar sucata”, conta o presidente do Sindicato.

Mas, como na história de Troia, os inimigos estavam ocultos. Logo veio a conta. No acordo de doação, o governo do estado concordou com uma cláusula de exclusividade: a reforma dos trens caberia à Renfe. E havia necessidade de reforma.

O estado gastou, segundo Craveiro, quase o mesmo que o valor de um trem novo. E permitiu a entrada de empresas estrangeiras ao pátio da ferrovia paulista, até então ocupada majoritariamente por empresas nacionais, entre as quais despontava a Mafersa.

O próprio Craveiro denunciou o caso à Justiça, através de uma ação popular, que foi arquivada em razão da existência de outro processo parecido, só que assinada por um deputado, Caldini Crespo, hoje no DEM.

Caldini Crespo tinha uma ação contra o estado, mas estranhamente, durante anos, exerceu influência política na CPTM e no Metrô, nomeando afilhados para a diretoria das duas empresas.

Depois de disputar duas vezes a prefeitura de Sorocaba, berço da ferrovia, Crespo saiu de cena sem conseguir se eleger, apesar das campanhas milionárias.

O processo dele contra o estado também deu em nada, assim uma investigação aberta na época pelo Tribunal de Contas do Estado, que hoje tem entre seus conselheiros Robson Marinho, ex-chefe da Casa Civil do governo Covas e denunciado pela justiça suíça como titular de uma conta usada para receber propinas da Alstom.

“A CPTM se tornou um balcão de negócios do governo tucano”, diz Centofanti, antes de entrar em detalhas da compra mais recente, a de R$ 1,8 bilhão. No edital, a CPTM avaliou em R$ 23,7 milhões o preço de um trem, mas a proposta mais barata foi de R$ 26,2 milhões, oferecido pelo consórcio IESA/Hyundai.

Era um preço superior ao de referência, mas o menor entre três propostas apresentadas. Mesmo assim, o consórcio vendeu apenas trinta dos 65 trens encomendados pela CPTM.

A maior parte – 35 trens — foi para o consórcio da espanhola CAF com a francesa Alstom, que cobrará R$ 28,9 milhões por trem.

Se não tivesse dividido a licitação em dois lotes, a CPTM —  com dinheiro do contribuinte paulista, repita-se –, compraria todos os trens por cerca de R$ 1,5 bilhão.

Mas, em razão das estranhas regras do edital, a conta sairá por R$ 1,8 bilhão. Para onde vai essa diferença de R$ 300 milhões?

A IESA/Hyundai poderia ter ficado com toda a encomenda, já que participou da licitação nos dois lotes. Curioso é que em um, o de trinta trens, ela apresentou um preço mais baixo, e ficou em primeiro lugar. No outro, o de 35 trens, ela apresentou um preço mais alto do que a CAF/Alstom, ficando em segundo lugar.

É um indício de que houve acerto entre as empresas, mas a CPTM, comandada pelo governo do Estado de São Paulo, em vez de suspender a compra por suspeita de cartel, homologou a licitação assim mesmo.

Escandaloso também é que, há três anos, a CPTM, com dinheiro do contribuinte paulista, comprou nove trens da Alstom por um preço ainda mais alto: R$ 31,6 milhões cada um.

Segundo o sindicato, esses trens ainda não rodaram, por não estarem adaptados para a obsoleta linha férrea da Grande São Paulo. Estão no pátio da estação Presidente Altino, onde, até alguns meses atrás, o sindicato ocupava um pequeno prédio. Foi despejado de lá depois das denúncias feitas por Craveiro.

Entre outras coisas, ele dizia que os trens estrangeiros que o estado compra não servem para as linhas da CPTM. “É necessário fazer obras de infraestrutura. Quando colocamos esses trens para rodar, é como se colocássemos um motor de Ferrari num Fusquinha. Dá pau. Esta é a razão de tantas panes e acidentes no sistema”, diz Craveiro.


Zuzinha, filho de Covas

Na última sessão da CPI do Transporte realizada na Câmara Municipal de São Paulo, uma burocrata do governo do Estado, Rosimeire Salgado, coordenadora de Transportes Coletivos da Secretaria de Transportes Metropolitanos, em cujo guarda-chuva se abriga a CPTM, admitiu que a empresa precisa de maior capacidade de energia para fazer rodar os trens adequadamente.

Para isso, é necessário fazer obras, mas são obras civis e de engenharia, atividades fora do catálogo das gigantes Alstom, Siemens e CAF.

Rosimeire atribuiu à falta de recursos o fato de não terem sido realizadas essas obras de adaptação das linhas da CPTM – esta é uma das razões pelas quais os trens aqui sacodem mais do que pipoca na panela, enquanto na Europa deslizam como patins sobre o gelo.

“São R$ 66 milhões para obras de manutenção”, disse Rosimeire. Pode ser pouco em relação ao montante que se gasta para trazer os trens estrangeiros, mas é o suficiente para fazer a alegria de empresas que andam entre as penas das gigantes.

É o caso da Tejofran, que até a chegada do PSDB ao governo do estado só fazia serviço de faxina em prédios públicos. Hoje, um de seus negócios mais prósperos é o de manutenção de trens. Trens da CPTM.

A Tejofran pertence a Antônio Dias Felipe, o Português. Quando era governador, Covas ficava bravo quando os jornalistas lhe perguntavam sobre a sua amizade com o Português e a relacionava aos contratos da Tejofran no governo.

Eram contratos em que a Tejofran entrava com faxineira e vassoura, e o estado com o dinheiro. Além da limpeza, a Tejofran agora, depois de quase vinte anos de governo do PSDB, empunha alicate e chave de fenda, para serviços mais complexos das ferrovias e, portanto, mais caros. Mas continua sendo difícil questionar o governo do Estado sobre a Tejofran.

Na reunião da CPI do Transporte da Câmara Municipal, o filho de Mário Covas, o vereador Zuzinha, acompanhou tudo. Ele não é membro da comissão, mas se sentou numa cadeira perto e olhava para os vereadores encarregados de questionar os burocratas do Estado.

A Tejofran não foi citada uma única vez. Coincidência ou não, Zuzinha é afilhado do Português. Foi na Tejofran que ele começou sua carreira profissional, formalmente contratado como advogado. Português foi padrinho de seu casamento.

“Está na hora de fazer uma faxina nessas relações promíscuas. Alguém ganha com isso, e não é o passageiro, que paga caro por um serviço ruim”, diz Centofanti, o Sancho Pança da luta pela moralização da estatal.

A última da cruzada dele e de Craveiro, o Dom Quixote: juntaram outros sindicatos para formar a Associação dos Usuários de Trens de São Paulo. Vem mais denúncia por aí. Mas quem se importa?

Maierovitch: Barbosa devia pedir para sair. Cometeu crime contra a honra
(17ago2013)

Por Fernando Brito no sítio Tijolaço


O desembargador aposentado Walter Maierovitch, insuspeito de qualquer simpatia pelos réus da ação penal 470, o chamado “mensalão” publica hoje, na CartaCapital, um duro artigo contra o comportamento, ontem, do presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, ao agredir verbalmente – que quase vai além disso, dizem os jornais – o seu colega Ricardo Levandowski.

Maierovitch diz que Barbosa não tem condições de equlíbrio para presidir o julgamento do caso e sugere que ele se licencie da função de presidente do Supremo. Ele seria incapaz, segundo o desembargador, de mediar até “jogos de xadrez de velhinhos reunidos em praça pública”.

A reação de Maierovitch, defensor das condenações realizadas neste caso, mostra o estrago que Barbosa está fazendo no Judiciário com sua ânsia de apresentar-se como um, assim chamei aqui, Charles Bronson jurídico, capaz de pretender ser um justiceiro que exercita arbitrariamente suas próprias razões.


Mais um barraco de Barbosa

Walter Maierovitch

Os supremos ministros do órgão de cúpula do Poder Judiciário preferiram manter a tradição da rotatividade e observada a antiguidade e elegeram, para assumir as elevadas funções de presidente do Pretório excelso, o ministro Joaquim Barbosa.

À época, não faltavam indicativos, prova-provada e até domínio do fato, reveladores de que Barbosa não possuir a serenidade e a compostura exigíveis para esse difícil e delicado encargo.

Trocando em miúdos, Barbosa poderia, com o seu comportamento mercurial e desgaste nos freios inibitórios, comprometer a imagem do Judiciário (não do Supremo Tribunal Federal). Em resumo, Barbosa não detinha, e era público e notório, condições nem para mediar, com urbanidade, temperança e aceitação de dissensos, jogos de xadrez de velhinhos reunidos em praça pública de pequena cidade interiorana.

Na antevéspera da eleição, Barbosa havia protagonizado um bate-boca em que ofendera a honra do ministro Ricardo Lewandowski, em função judicante e como revisor da ação penal 470, apelidada de “mensalão”. O pacífico ministro Ayres Brito, então na presidência, exercitou com sucesso o papel de bombeiro-togado e a boa-vontade de Lewandowski permitiu o encerramento do primeiro grande “barraco” promovido por Barbosa, que não gosta de ser contrariado como relator de processos. Esse “barraco” o colocou, perante a população, como herói inflexível e Barbosa passou a pontuar nas pesquisas eleitorais para a presidência da República. Coisas de república bananeira, ou seja, de presidente trapalhão do STF para a presidência da nação.

Na quinta-feira 15 e quando do julgamento de embargos de declaração apresentados pelo ex-deputado Carlos Rodrigues (PL-RJ), conhecido por bispo Rodrigues, o ministro Barbosa, na presidência da sessão plenária do Supremo Tribunal Federal (STF), não aceitou ter o ministro Ricardo Lewandowski admitido um erro no seu voto condenatório.

Só para recordar, no chamado “mensalão”, o bispo Rodrigues, por unanimidade, havia sido condenado, além da sanção pecuniária fixada em R$ 754 mil, às penas de seis anos e três meses de prisão, com cumprimento em regime aberto, por crimes de corrupção passiva e lavagem do dinheiro recebido, no importe de R$ 150 mil.

Segundo Lewandowski, o crime de corrupção passiva tinha se consumado em 2002 e, portanto, antes da Lei 10763, de 12 de novembro de 2003. Uma lei nova e que elevou as penas. Assim, Lewandowski concluiu ter ocorrido fixação retroativa (vedada pela Constituição da República) e equivocada, por toda a Corte, de lei nova e menos benigna. Diante do colocado, Barbosa, que havia sido relator, e os demais ministros passaram a discutir a questão. Para Barbosa e Gilmar Mendes, por exemplo, o crime se consumara em 17 de dezembro de 2013 quando o bispo Rodrigues, líder regional do seu partido político, recebera, de surpresa e sem acordo prévio com o corruptor, os R$ 150 mil. De surpresa porque o bispo Rodrigues não havia apoiado o candidato do partido dos trabalhadores (PT) no primeiro turno das eleições presidenciais.

Como se sabe, situações teratológicas e a envolver a liberdade das pessoas, podem e devem ser resolvidas, nos tribunais, até por habeas-corpus de ofício, ou seja, sem anterior requerimento do paciente ou de um cidadão do povo (qualquer pessoas por impetrar um habeas-corpus e não precisa de advogado).

O próprio Supremo, na sessão de julgamento do dia anterior, havia concedido habeas-corpus de ofício ao réu-embargante Quaglia e para absolvê-lo por atipicidade penal.

Barbosa insistiu que a matéria levantada por Lewandowski não era pertinente a embargos, que são admitidos para correção de contradições, obscuridades, dúvidas e omissões. Ou seja, como regra, os embargos declaratórios não substituem as apelações e não têm natureza de infringentes.

Diante do nervosismo de Barbosa em querer encerrar o debate, Lewandowski propôs a suspensão dos trabalhos (era o último da pauta) para que todos refletissem melhor e à luz de um exame mais apurado da correlação entre a denúncia apresentada pelo procurador-geral da República e o acórdão. Em razão da proposta, que teve receptividade entre alguns ministros, o presidente Barbosa partiu para o ‘barraco’. Quis ganhar no grito e foi autor, em tese, de crime contra a honra ao chamar o ministro Lewandowski de chicaneiro. Pior, Barbosa não quis se retratar.
No mundo judiciário, atribuir a um advogado a chicana representa uma das piores ofensas. Agora, a um juiz, vira prevaricação, no mínimo.

Além da ofensa ao Código Penal e no capítulo que trata dos crimes de injúria, difamação e calúnia, o ministro Barbosa maculou o Poder Judiciário, que o elegeu e mantém na função de presidente um destemperado, para se dizer o mínimo.

* * *

Pano rápido. O presidente Barbosa, que promoveu um espetáculo de gerais de um clássico futebolístico, deveria seguir o exemplo do presidente do Santos Futebol Clube, ou seja, pedir um afastamento, sine die, das funções.

Tolerância zero fracassa junto com guerra contra as drogas
(17ago2013)

Do blog Sem Juízo por Marcelo Semer

A guerra contra as drogas fracassou. A tolerância zero também.

Duas medidas recentes dão conta de uma mudança de trajetória na política-criminal norte-americana.
É tardia e ainda pequena, mas já perceptível.

O secretário da Justiça dos EUA anunciou orientação para que suas procuradorias atuem no sentido de reduzir sanções para diminuir o encarceramento de portadores de droga.

A Justiça Federal em Nova York decidiu que as revistas indiscriminadas, conhecidas como stop-and-frisk, são inconstitucionais por falta de justificativa, dirigindo-se, prioritariamente, a negros e latinos.

Há cerca de dois milhões de presos no país, o que faz dos Estados Unidos a maior penitenciária mundial.

Lá estão reclusos um de cada quatro presos do planeta. Mais de um terço deles por delitos relacionados à posse de entorpecentes.

O efeito da guerra às drogas pode ter vitaminado muitos negócios, levando-se em consideração a exploração privada dos presídios, mas no tocante à saúde pública tem sido inócua.

O potencial criminógeno do excesso de prisão, ao revés, é devastador.
“Não podemos mais tratar pequenos criminosos como reis do tráfico. É contraproducente. Usuários com pequenas violações da lei acabam pagando um preço alto demais ao serem colocados no sistema prisional” –afirma o secretário de justiça Eric Holder (Folha de S. Paulo, 13/08/13).
Pesquisa recente no Brasil já havia concluído que a prisão por tráfico de entorpecentes crescera três vezes mais do que a população carcerária no geral desde a edição da última lei de drogas.

O volume de microtraficantes está superlotando as prisões brasileiras que já ultrapassam meio milhão de habitantes –além de representar quase a metade das internações de adolescentes.

A seletividade, ademais, tem sido um dos marcos distintivos do direito penal, tanto lá quanto aqui. É a tal de serpente que só pica pés descalços.

Além das escolhas legislativas, que privilegiam certos crimes e são tênues sobre outros, e das deficiências inerentes à defesa dos carentes, a prioridade na vigilância acaba sendo determinante para a formação da clientela penitenciária.

Com a irrisória investigação, o grosso dos processos criminais se origina de prisões em flagrantes, realizadas a partir de fiscalizações de rua.

Prisões por posse de drogas, como de armas, por exemplo, dependem basicamente de quem é o destinatário da abordagem. Estas se dão preferencialmente nas periferias ou sobre pessoas que, segundo uma avaliação subjetiva das polícias, despertem maior suspeita.

O volume de jovens negros ou pardos submetidos a batidas policiais é muito mais elevado do que a média dos demais cidadãos.

A presença na rua da população carente, seja pelo uso frequente do transporte coletivo, seja pela utilização dos espaços públicos como área de lazer, é muito superior a quem trafega apenas de carro entre endereços e locais conhecidos e bem protegidos.

Isso é mais ainda perceptível nas prisões de possuidores de pequenas quantidades de droga.

Embora seja fato constantemente noticiado a presença de entorpecentes em festas particulares, clubes privados ou endereços tradicionais da noite em grandes metrópoles, a expressiva maioria das prisões se dá mesmo nas ruas, becos, vielas ou em bailes da periferia. Como se o vício ou o uso recreativo da droga fosse algo totalmente desconhecido na alta classe média.

Buscas e apreensões em favelas e cortiços não são revestidas tradicionalmente das mesmas cautelas dos que as que, raramente, aliás, se realizam em edifícios residenciais.

Não é à toa, assim, que o panorama de presos e processados seja uma amostra extremamente desigual da sociedade.

Como tanto a guerra contra as drogas, como a tolerância zero foram vedetes de políticos e comunicadores, replicando o provincianismo de achar que o era bom para os Estados Unidos devia ser bom para o Brasil, é de se ver, enfim, se esses mais contundentes líderes da política da lei e da ordem também vão se dar conta destas confissões de ineficácia e acompanhar a guinada da política norte-americana.

Ou continuarão tentando, em vão, apagar fogo com querosene?

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Por que abolir os pelos pubianos?
(15ago2013)

Quero que meus pelos continuem lá!

Por Emily Gibson, reproduzido do sítio DoLaDoDeLá

Deve ter acontecido em algum momento na última década, pois a quantidade de tempo, energia, dinheiro e emoção que ambos os sexos gastam em abolir todos os pelos de seus órgãos genitais é astronômica. A indústria da depilação genital, incluindo médicos que anunciam seus serviços especiais para aquelas mulheres que procuram o visual “limpa e pelada”, está crescendo.

Mas por que incomodar os pobres pelos pubianos? Algumas teorias sociológicas sugerem que tem a ver com as tendências culturais geradas por biquínis e tangas, certos atores e atrizes sem pelos, um desejo de voltar à infância ou mesmo uma tentativa equivocada de manter a higiene.

É uma guerra, infelizmente, equivocada. Há muito tempo, os cirurgiões descobriram que raspar uma parte do corpo antes da cirurgia, na verdade, aumentou, em vez de diminuir, as infecções. Não importa que instrumentos complexos sejam usados — lâminas de barbear, aparelhos de barbear, pinças, depilação, eletrólise – cabelo, como grama, sempre volta a crescer e vence no final. Nesse meio tempo, a pele sofre os efeitos de um campo de batalha queimado.

A remoção dos pêlos pubianos irrita e inflama os folículos pilosos, deixando aberturas microscópicas. A depilação freqüente é necessária para deixar a superfície lisa, causando irritação da área raspada ou tratada com cera. Quando essa irritação se mistura ao ambiente quente e úmido dos órgãos genitais, torna-se um meio de cultura feliz para algumas das piores bactérias patogênicas — streptococcus, staphylococcus aureus etc.

Alguns médicos estão descobrindo que áreas e órgãos genitais púbicos barbeados também são mais vulneráveis ​a infecções de herpes. Portanto, pode haver maior vulnerabilidade à propagação de outras doenças sexualmente transmissíveis.

É hora de declarar o fim da guerra aos pelos pubianos e permitir que eles permaneçam onde devem estar.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Cai a última acusação contra Pizzolato
(14ago2013)

Por Miguel do Rosário no sítio O Cafezinho

Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) não estarão julgando apenas os réus. Há dois réus ocultos, muito mais importantes sendo julgados nestes últimos momentos da Ação Penal 470. Os próprios ministros e a mídia. Ao condenar inocentes, pressionados pela mídia, os ministros estarão escrevendo seus nomes nos anais da história da corrupção judiciária. E a mídia, igualmente, terá protagonizado mais um ataque ao Estado de Direito e à democracia, depois de tantos que já fez na história política do Brasil. O povo brasileiro perdoou o apoio que a mídia deu à ditadura. Mas esse perdão não é eterno. Ele está condicionado à reconstrução de nossa memória e ao grau de consciência política do povo. O golpe conceitual e político dessa farsa chamada “mensalão” apenas acrescenta um capítulo triste à biografia de nossos principais grupos de mídia. Já escrevi diversas vezes sobre o caso de Henrique Pizzolato, ex-diretor de marketing do Banco do Brasil. Acredito que o caso dele é a primeira grande ruptura no casco da farsa. Pizzolato foi condenado a 12 anos por ter desviado R$ 73 milhões do Banco do Brasil para a DNA Propaganda. Em troca, Pizzolato teria recebido, diz a acusação, uma propina de pouco mais de 300 mil reais.  Hoje apresentamos, porém, a prova definitiva da inocência do petista. A acusação de desvio foi derrubada e soterrada com enorme quantidade de documentos:
Pizzolato não tinha poder para transferir nenhum recurso do BB a nenhuma agência de publicidade. Essa responsabilidade cabia a seus superiores, como Claudio Vasconcelos, gerente-executivo de Propaganda e Mídia.
Os três pareceres assinados por Pizzolato, usados para incrimá-lo, também foram assinados por outros três executivos, que misteriosamente não foram indiciados na mesma Ação Penal, o que revela perseguição política inadmissível num Estado de Direito.
Os pareceres assinados por Pizzolato não eram deliberativos. Há documentos deliberativos não assinados por Pizzolato autorizando Visanet e DNA propaganda a darem sequência às campanhas de marketing.
As campanhas de marketing pelas quais a DNA Propaganda recebeu da Visanet foram realizadas. As provas estão aí. Por isso mesmo, a diretoria jurídica do BB jamais processou a DNA para exigir o dinheiro de volta.
O contrato da DNA Propaganda com o Banco do Brasil era antigo, e sua última renovação foi aprovada antes da entrada de Pizzolato.
Os recursos do Visanet, usados para pagar a DNA Propaganda, são privados. Todos os documentos mostram isso. Há auditorias, relatórios, todos concluem que os recursos eram privados. A assertiva contrária, usada pela acusação, é inepta, equivocada e tendenciosa. Houve má fé por parte dos acusadores e juízes, porque a definição dos recursos visanet como públicos interessava à manutenção de uma narrativa política.
O Cafezinho teve acesso à defesa da DNA Propaganda, onde consta a relação do uso dos R$ 74 milhões que, segundo a Procuradoria, foram “desviados”. Não foram desviados. Foram efetivamente usados em propaganda. A Globo e os principais grupos de mídia sempre souberam disso, porque receberam a maior parte dessa verba. Há documentos e notas fiscais para tudo isso. Como sempre a Globo ficou com a maior parte. Ironia suprema desse imbróglio todo: o “mensalão” na verdade foi parar nos bolsos da família Marinho. Enquanto Pizzolato pode ser preso ter feito nada, os Marinho embolsaram R$ 5,5 milhões dos recursos que, segundo a acusação, teriam parado nas mãos de mensaleiros.

Principais grupos de mídia que receberam os recursos da campanha do BB/Visanet no ano de 2004:


A DNA também levantou todos os funcionários do BB que assinaram documentos autorizando a agência a fazer pagamentos a veículos de mídia, ainda no âmbito da campanha BB/Visanet que, segundo a acusação, não teria sequer existido:



Observe que Pizzolato está em 20º lugar no número de autorizações da DNA. Em primeiríssimo lugar, estão os seguintes servidores do BB: Rogério Sousa de Oliveira, Claudio de Castro Vasconcelos e…  Roberto Messias. Sim, ele mesmo, o homem forte da Secom que agora quer a prisão de Pizzolato. Nas autorizações do BB para DNA pagar fornecedores e mídias, constam 279 assinaturas de Roberto Messias, e apenas 19 assinaturas de Pizzolato. Mais uma vez, está patente o caráter vicioso, discriminatório, politicamente orientado, da acusação.

E agora caiu por terra também a acusação de que Pizzolato teria recebido propina. Tivemos acesso a documentos comprobatórios que mostram que o envelope com R$ 326.660,67 foi realmente destinado ao diretório do Partido dos Trabalhadores no Rio de Janeiro. O relatório elaborado pela Polícia Federal, Inquérito Policial nº 002/2007-DFIN/DCOR/DOF, assinado pelo Delegado da Polícia Federal Luís Flávio Zampronha de Oliveira, mostra que esta quantia exata foi sacada por um funcionário da DNA, Robson Ferreira Pego, na agência do Banco Rural em Brasília, e entregue à Marcos Valério, que por sua vez a repassou ao diretório do PT no Rio. Este documento foi escondido no inquérito 2474, que Joaquim Barbosa mantém em sigilo até hoje, porque reúne documentos que comprometem a verossimilhança do “mensalão”.

Em depoimento à Polícia Federal, Marcos Valério entrega a planilha com a distribuição dos recursos que ele, em parceria com Delúbio, repassou a diretórios do PT, para financiar campanhas ou pré-campanhas eleitorais. Esses foram os recursos que Valério arrecadou, via empréstimo, no Banco Rural, para emprestar ao PT, que tinha dívidas de campanha.



Aí segue uma lista com os recebedores individuais do PT em todo país, que recebiam dinheiro do Marcos Valério (na verdade, dinheiro do PT, pois o acordo entre Delúbio e Valério era que o PT iria pagar) para suas respectivas campanhas. No Rio, constam as seguintes entregas:


O dinheiro entregue no Rio seguiu para Manoel Severino, que era o controlador financeiro das despesas eleitorais do partido no estado. Um do valores foi entregue via Henrique Pizzolato, que nem chegou a abrir o envelope. Estava no trabalho, mandou alguém pegar o envelope, e depois um representante do PT no Rio foi buscá-lo em seu apartamento.

Observe que os valores batem até nos centavos. No auge do escândalo, acusou-se Pizzolato de ter comprado seu apartamento com esse dinheiro. Pizzolato imediatamente abriu todos os seus sigilos fiscais e bancários, ao contrário de Joaquim Barbosa, que até hoje não explicou a compra de seu apartamento em Miami. Pizzolato teve sua vida fiscal e bancária vasculhada pelo período de mais de 20 anos e nunca se encontrou nada. E provou que adquiriu seu apartamento com recursos próprios, obtidos de maneira transparente e honesta.

Esperamos que o STF não se dobre a uma mídia delinquente, sonegadora de impostos, historicamente golpista, e defenda os valores democráticos e humanistas que norteiam a nossa Constituição e guiam nossos ideais mais profundos!

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Maria Lucia Fatorelli: Banqueiros capturaram o Estado brasileiro; auditoria levaria a desconto de 70% na dívida; BC mascara dados
(12ago2013)

Por Luiz Carlos Azenha no sitio Viomundo




O documento acima é oficialíssimo. Está nas páginas do Senado brasileiro. Leia a linha de número dois, sob Pago:

R$ 134 bilhões, 53 milhões, 618 mil e 451 reais.

É quanto você pagou em juros da dívida brasileira em 2012, segundo o governo (mas há controvérsias, sobre as quais você vai saber abaixo).

Agora leia a linha de número seis, sob Pago:

R$ 618 bilhões, 888 milhões, 549 mil e 837 reais.

É quanto você pagou em amortização/refinanciamento da dívida em 2012.

Uma enormidade, não?

Pois Maria Lúcia Fatorelli acredita que, se houvesse uma auditoria, o valor devido poderia ter uma redução de até 70%.

Por que? A ex-auditora da Receita Federal está certa de que existem ilegalidades e irregularidades nas cobranças da dívida brasileira.

Para benefício dos banqueiros e prejuízo dos contribuintes.

Escrevo “contribuintes” porque a dívida é paga com dinheiro de nossos impostos. Tudo o que o Tesouro brasileiro faz é pendurar a conta em nosso nome: “procura o gerente” e entrega uma montanha de papéis assumindo que “devo, não nego, pago quando puder”. Com juros, muitos juros, razão de viver dos bancos.

Aqui, uma pausa importante: a mídia corporativa não tenta explicar tudo o que você vai ler e ouvir abaixo aos leitores, ouvintes e telespectadores. Por que? Porque os bancos são grandes patrocinadores. Por outro lado, mesmo os governos não gostam de falar do assunto. Quanto mais transparência, menor margem de manobra para os acertos de bastidores. Por isso, em geral os governos fazem de conta que o assunto é muito árduo, muito difícil de entender e que você não precisa se preocupar com isso. Ou seja, deve pagar a ficar quieto.

Mas, voltemos ao que interessa…

O poder dos banqueiros sempre foi imenso. Eles definem as regras nas duas pontas: desde as condições de emissão dos papéis em que prometemos pagar até as regras da cobrança.

Faturam com as comissões sobre as transações e com os juros. Juros altos interessam aos banqueiros. Quanto maiores, mais eles recebem emprestando ao governo.

E os cidadãos? Pagam a conta através dos impostos e ficam sem os serviços públicos que o dinheiro dado aos banqueiros poderia financiar. Sem o Metrô, os hospitais e as creches que o dinheiro gasto em juros poderia financiar.

Sob o peso da dívida — grosseiramente, R$ 3 trilhões em dívida interna e U$ 400 bilhões em dívida externa — o governo privatiza. Aliás, “concede”. Entrega parte da soberania.

Entrega à iniciativa privada — cujo objetivo principal, como o dos banqueiros, é o lucro — algo que poderia fazer, possivelmente mais barato, com recursos públicos, se o dinheiro não fosse usado para pagar ou rolar a dívida e os juros.

Concede portos e aeroportos. Facilita o acesso a recursos naturais. Em outras palavras, entrega o ouro.

Maria Lucia Fatorelli é coordenadora da Auditoria Cidadã da Dívida, uma entidade que batalha para que o Brasil faça o mesmo que o Equador fez, em 2007 e 2008. Aliás, uma experiência sobre a qual Maria Lucia pode falar de cátedra. Ela foi convidada pelo presidente equatoriano Rafael Correa a fazer parte da CAIC, a Comissão de Auditoria Integral da Dívida Pública.

Resultado final? Boa parte da dívida equatoriana era ilegal. Não havia provas, por exemplo, de que o governo tinha de fato recebido os empréstimos pelos quais estava pagando. Ao fim e ao cabo, o presidente Correia reconheceu apenas 30% da dívida. Curiosamente, 95% dos bancos credores do Equador aceitaram fazer acordo com o governo e renunciaram a qualquer ação nos tribunais internacionais.

O Brasil tem hoje uma dívida externa de cerca de U$ 440 bilhões. Uma fatia razoável é de empresas privadas, que tomam dinheiro no Exterior. Mas Maria Lucia está certa de que a fatia pública desta dívida externa, em caso de auditoria, teria um cancelamento tão grande quanto a do Equador, dado que condições similares foram aplicadas ao mesmo tempo nos dois paises por banqueiros internacionais e que, em 1992, parte da dívida dos dois países prescreveu.

Prescreveu? Prescreveu e continuamos pagando?

Para entender melhor, ouça o trecho da entrevista em que Maria Lucia fala a respeito de seu trabalho no Equador:



Durante a gravação Maria Lucia fez duas promessas.

Primeiro, nomear os bancos norte-americanos que, através do Banco Central dos Estados Unidos, o Fed, controlam a taxa de juros que nos é cobrada na dívida externa, a Prime: Citibank, Chase Manhattan, Goldman Sachs, JP Morgan e Bank of America, entre outros. Já a Associação dos Banqueiros de Londres tem peso decisivo na definição da Libor, outra taxa importante no mercado.

A auditora também prometeu o gráfico abaixo:


A coluna azul é dos gastos sociais no Equador. A coluna vermelha é a do serviço da dívida pública. Notem como ela foi invertida nos últimos anos. É óbvio, mas não custa reafirmar: menos dinheiro pagando juros é mais dinheiro disponível para gastos sociais e investimento em infraestrutura.

Maria Lucia acha factível o Brasil fazer o mesmo que o Equador: “Se o Brasil toma uma iniciativa dessas, ele encoraja outros paises a enfrentar o esquema”. O “esquema” a que ela se refere é o sistema pelo qual os banqueiros passaram a capturar fundos públicos para turbinar seu poder no mundo.

No trecho seguinte da entrevista, ela explica que a origem da dívida interna brasileira, de quase R$ 3 trilhões, se deu no Plano Real, quando para combater a inflação o governo de FHC disparou a taxa de juros para atrair dinheiro de fora.

Desde então, acusa Maria Lucia, o Tesouro brasileiro comete ilegalidade ao emitir dívida para pagar juros, o que segundo ela é inconstitucional:



Maria Lucia Fatorelli também teve participação importante na Comissão Parlamentar de Inquérito da dívida, realizada no Congresso (veja todos os detalhes aqui), que gerou denúncias enviadas ao Ministério Público Federal.

Na CPI, algumas informações importantes foram levantadas.

Por exemplo: quem são os detentores dos títulos da dívida?

“Pessoa física mesmo quase não aparece no gráfico”, diz ela.

Mais da metade da dívida está nas mãos dos banqueiros.

Ou seja, numa ponta eles incentivam o governo a gerar dívida e faturam comissões vendendo a dívida; noutra, faturam com os juros da dívida. Que bom negócio!!!


Outro detalhe impressionante diz respeito ao arranjo que existe para a venda dos títulos brasileiros.

“O Tesouro, quando emite os títulos, somente um grupo privilegiado de doze instituições financeiras pode comprar esses títulos. Se eu, você, qualquer brasileiro quiser nós vamos ter de comprar através de uma corretora, de um intermediário”, conta Maria Lucia.

São os chamados “dealers”.

“Olha como o jogo funciona. O Tesouro emite. Se os juros não estão no patamar que eles querem, eles não compram. Por isso é que são os ‘dealers’, eles é que mandam. Antes, eles já se reúnem e já repartem, de tal forma que apenas um, no máximo dois vão participar de cada leilão, para não ter concorrência! Tudo muito bem repartido. É um esquema que a gente, quando descobre essas coisas… não é possível que a finança do País tá desse jeito!”


A lista acima é a dos “dealers” a que se referiu Maria Lucia.

E como é definida a taxa Selic, a principal taxa de juros do Brasil? Antes da trigésima sexta reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central, houve uma consulta a “analistas independentes”.

Você que está nos lendo e paga a conta, foi consultado?

Ah, lógico que não.

Veja quem o BC ouviu, segundo Maria Lucia:


Caraca!, exclamaria você. Os banqueiros estão em todas as pontas do negócio.

Participam da emissão da dívida, influem nas taxas de juros e recebem a taxa de juros sobre a qual influem!!!

Estes são os motivos pelos quais Maria Lucia Fatorelli acredita num grande abatimento da dívida brasileira em caso de auditoria: ilegalidades, conflito de interesses e tráfico de influência, como registrado acima.

Ela faz um resumo neste trecho da entrevista:


Maria Lucia Fatorelli suspeita que o governo federal esteja fazendo manobras contábeis ao lidar com a dívida e, no curso delas, viola o artigo 167 da Constituição, que não permite emissão de dívida para pagamento de juros.

A suspeita nasceu assim: na tabela que aparece logo abaixo, está dito na linha 2 que o Brasil pagou R$ 134 bilhões em juros da dívida em 2012. A taxa média de juros no ano passado, de acordo com o próprio Banco Central, foi de 11,72%.

Mas, aplicando a taxa ao estoque total da dívida interna e externa — cerca de R$ 3,4 trilhões no início de 2012 — o número deveria ser muito maior!

Nos cálculos de Maria Lucia, o total de juros pagos em 2012 deveria ter sido de R$ 398 bilhões.

E onde foi parar a diferença? O gato comeu R$ 264 bilhões em juros?

Na opinião da auditora, é a prova de que o governo emite títulos para pagar juros.

Com isso, parte substancial do pagamento de juros acaba na coluna “refinanciamento”.

Salta da linha 2 para a linha 6:


Maria Lucia Fatorelli insiste que isso contraria a Constituição.

“Fraude!”, insiste. No trecho da entrevista ela se refere à tabela acima:


Ao fim e ao cabo, segundo Maria Lucia, é o peso da dívida que acaba enfraquecendo o endividado Estado brasileiro.

Seria o motivo para as concessões de estradas, rodovias, portos e ferrovias anunciadas pelo governo Dilma.

Para fazer parecer que o problema não é tão grave quanto é, os cálculos do governo sobre a relação entre a dívida e o PIB, a soma de todas as riquezas produzidas no Brasil, considera a chamada “dívida liquida”, ou seja, o governo desconta as reservas detidas pelo Brasil em dólares, de cerca de U$ 400 bilhões, da equação.

Da mesma forma, quando o governo calcula o pagamento de juros como parte do Orçamento, não inclui os juros que, segundo Maria Lucia Fatorelli, estão “embutidos” no refinanciamento da dívida.

Seriam truques para fazer parecer que o problema não é tão grave quanto é. Acabam mascarando o domínio dos banqueiros sobre o “sistema”.

É por isso que os dois gráficos abaixo, divulgados pela Auditoria da Dívida Cidadã na internet, causam tanta controvérsia. Os governistas acham que só deveriam ser considerados os R$ 134 bilhões oficialmente declarados como juros pagos em 2012, não R$ 753 bilhões que são a soma de juros + amortizações.



Ao concluir nossa entrevista, Maria Lucia Fatorelli diz que o crescente grau de endividamento reduz a margem de manobra do governo e o empurra para as privatizações, agora “de estruturas de estado”, não apenas de empresas lucrativas, como aconteceu no período da privataria tucana. Outro ponto controverso, já que petistas insistem que concessões não equivalem à venda de patrimônio.

Maria Lucia opina que o Estado brasileiro hoje serve mais aos banqueiros que aos cidadãos que pagam a conta. Outra opinião capaz de causar um acalorado debate, mas desta vez na federação dos banqueiros, a Febraban, que costuma dizer que os bancos prestam um serviço público, sem admitir que fazem isso também às custas do dinheiro público.

Ouçam o trecho final da entrevista:

sábado, 10 de agosto de 2013

Assaltantes devolvem computadores roubados
(10ago2013)

Do sítio do Huffington Post, em 8 de agosto de 2013, traduzido por Aquiles Lazzarotto

Quando os assaltantes no município de San Bernardino, Califórnia, perceberam que os computadores que tinham roubado eram de uma entidade sem fins lucrativos que ajuda vítimas de violência sexual, eles os devolveram - juntamente com uma nota de desculpas que pode restaurar a fé na humanidade.


Os ladrões irromperam nos escritórios do San Bernardino County Sexual Assault Services na noite de 31 de julho, de acordo com uma nota para a imprensa do Gabinete de Serviços de Emergência do Governo da Califórnia. Candy Stallings, a diretora executiva da entidade, disse que os assaltantes passaram entre as placas do piso e as paredes para burlarem o alto sistema de segurança do prédio.

Eles também cortaram múltiplos fios de alarme, conforme reportou o CBS Los Angeles. Em minutos, seis computadores com discos rígidos, um laptop e uma bolsa de objetos de valor foram levados.

A polícia chamou Stallings na manhã do dia seguinte, às 4:30, de acordo com a NBC Los Angeles. Disseram a ela que mais atividade suspeita estava acontecendo no seu escritório.

Mas quando Stallings chegou, ela encontrou uma surpresa.

"Todo o meu material estava em frente à porta", disse ela à emissora. "Havia um carrinho de compras, e nele estavam os computaadores que haviam sido levados, estava o laptop. Tudo esta lá".

No laptop, um investigador descobriu o bilhete. Ele leu:
Não tínhamos ideia do que estávamos levando. Aqui está seu material de volta. Esperamos que vocês, rapazes, possam continuar a fazer a diferença na vida das pessoas. Deus abençoe.
"Ficamos agradavelmente chocados", acrescentou Stallings. "Você deve estar brincando comigo. Eu estava descrente. Eu fiquei arrepiada. Eu fiquei muito emocionada."

"Essa é a primeira vez em minha carreira que eu vejo a devolução de itens roubados", disse Paul Williams, Tenente da Polícia de San Bernardino, à NBC. "Parece que a culpa de tomar a propriedade causou o retorno dos itens."

Personal Sacred Geometry
(10ago2013)

Archangel Michael: Your Personal Sacred Geometry, channeled by Natalie Glasson, August 7, 2013 at http://omna.org. Post in Golden Age of Gaia

Multi-coloured rainbows of light from the Angelic Kingdom pour into your being and surroundings creating pockets of joy, bliss and divinity to inspire the same to activate within your being. The Angelic Kingdom are extremely present at this time upon the Earth, our energies are assisting and supporting in building a new energetic fabric and foundation for the Earth and humanity but we are especially assisting in enthusing the consciousness of humanity with vibrations of truth from our souls.

If you are able to consciously link into our vibrations of truth transmitting into the general consciousness of humanity, you may find yourself being deeply inspired with vibrant information and new exciting insights allowing you to gaze upon yourself and reality with fresh eyes. Never before has so much wisdom from the Angelic Kingdom been shared so openly and poured into the consciousness of humanity.

Transformação unitária
(10ago2013)

Mensagem de Maria, Sananda e Melquisedeque
Canalizado por Elsa Farrus em 8 de agosto de 2013


Amada menina, sou Maria.

Abre-se o lótus da consciência, abre-se a nível universal a unidade, já os acessos levam tempo alinhando-se.

Agora o trabalho pessoal de cada um adquire forma, em especial no dia 11 deste mês.

A transição de cada um de vocês já foi se perfilando nos anos passados, por isso agora é o tempo de transformar o externo, que responde às suas capacidades inatas.

É o fim de um tempo, de uma transição de corpo para a integração.

De coral para marfim.

O que quero dizer com isto?

Que todos vocês vão para um reino muito mais enraizado do que estiveram vivendo até agora.

Sua passagem pela Terra foi como um trânsito para aprender, mas agora Gaia está perfilando uma subida geomagnética muito visível nas próximas horas até 29 de agosto.

O trânsito de Leão os ajuda a se enraizar, a fazer parte ativa de todo o sistema, de toda a luz, de todo planeta, sem divisão, sem véus, sem se esconder ou ocultar.

Abrem-se os canais de comunicação entre os seres de todos os planos que formam o planeta, entre vocês e todos os reinos: vegetal, mineral, animal, élfico.

Abre-se a consciência de comunicação à medida que a energia entrante ilumina o lótus azul de seu chakra base.

Entre o chakra estrela de Gaia e o chakra base há milhares de fios de cores, que à medida que sua consciência se enriquece e vocês compreendem os fluxos da vida e suas sincronias, formam-se milhares de fractais de luz agrupados, que os mantêm unidos e ligados com a realidade.

Esta formação de um sextil, o hexagrama entre estes chakras, que algumas culturas chamam amorosamente de lótus azul da consciência terrestre por suas formas geométricas, flui à medida que a pessoa desperta e flui, como o movimento leve das pétalas de uma rosa ou lótus.

É tempo de reconectar essa energia.

Para tal o que vão fazer...?

Sinceramente nada, apenas dedicar uns minutos por dia à respiração, ao silêncio.

A forte energia entrante desde 06 de agosto, altamente elétrica, os ajudará a compensar toda a restauração desse centro de memória e consciência.


Apenas respiração e silêncio

É hora do compromisso com vocês mesmos, de se comprometerem a cuidar de seus corpos elétricos, energéticos e fractais, os antigamente chamados espirituais.

Pois bem, irmãos, o corpo mais espiritual que há é o corpo físico, nele se manifestam todos os demais, assim que já deveriam ter se comprometido em cuidá-lo, e se desejam, estão em tempo de começar.

Convidamos vocês a se recordar de quem são, convidamos vocês a restabelecer a comunicação com os reinos, mas não de maneira isolada, de vez em quando, não, em sua ocupação diária, em sua vida.

Convidamos vocês a recordar do belo do planeta, quando visto com os olhos da alma e não com as divisões ou medos.

Abrem-se os canais, abre-se a energia, abre-se a paz.

A vocês cabe escolher integrar ou caminhar em outros planos de consciência onde continuam sua formação de dualidade.

Gaia escolheu a Unidade.

Gaia convida vocês a voltar ao seu centro, a voltar a ser seres conscientes junto com Ela.

No sol de Alcyon nós estamos trabalhando intensamente para ajustar as entradas de energia de maneira progressiva e gradual.

Pedimos a vocês que nos ajudem enviando à mãe Terra energia e Ki para equilibrar os movimentos tectônicos, para se reajustarem como consequência do traslado dimensional, não por Karma e essas coisas que nascem da mente dos humanos, é simplesmente um reajuste gravitatório que vocês podem nos ajudar a compensar, trabalhando como pontes de luz na superfície da terra, expandindo luz dourada, rosa ou simplesmente luz de amor... cada um como sentir.

Irmãos, nós lhes enviamos um grande abraço desde o sol de Alcyon.

Amada Maria, Sananda e Melquisedeque.


Feliz trânsito de Leão a todos e obrigada por compartilhar esta mensagem.

Um abraço, Elsa.


Fonte: http://ascensionalquimicageometrica.blogspot.com.es/
Tradução: Blog SINTESE

Países ricos apertam cerco contra evasão de divisas. Já aqui…
(10ago2013)

Por Miguel do Rosário no sítio Tijolaço

Sonegadores do mundo inteiro que usaram bancos suíços estão apavorados com a notícia de que um ex-funcionário do HSBC tem em seu poder cinco CD-Roms com informações secretas de quase 130 mil correntistas. Se ele abrir esses dados, será a maior quebra de sigilo da história bancária da Suíça.

A informação saiu em matéria divulgada ontem no New York Times. O Globo publicou escondidinho na parte inferior da página 32. Ainda não achei a notícia em nenhum outro jornal brasileiro.

A matéria do NY Times traz revelações interessantes: governos dos EUA e Europa mudaram radicalmente a postura de tolerância contra evasão de divisas, e iniciaram uma espécie de “guerra fria” entre si para disputar quem repatria mais dinheiro.
Motivo: a crise econômica. A quantidade de recursos em paraísos fiscais atingiu tal magnitude, que os governos descobriram que repatria-los se tornou estratégico para superar a crise.

Aqui no Brasil, no entanto, essa mentalidade ainda não amadureceu. Não vimos nenhuma manifestação, nem nas ruas nem em editoriais ou colunas, sobre a descoberta de que os super-ricos brasileiros tem quase 1 trilhão de reais em paraísos fiscais. Esse dinheiro poderia estar no Brasil, gerando empregos, produção e ajudando a pagar serviços de educação e saúde.

Nem o governo ou o Ministério Público apresentaram à sociedade até agora nenhum programa de impacto para mostrar à sociedade que está combatendo o histórico sangramento de divisas e evasão fiscal praticado pelas elites econômicas.

No portal dos Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Unafisco), encontramos alguns relatos assustadores da magnitude da sonegação no Brasil.

Recorto alguns trechos de artigos que encontrei por lá. Alguns são antigos, mas os crimes denunciados nunca foram tão atuais. Destaquei em negrito as passagens mais importantes:
Os assalariados brasileiros, com desconto direto na fonte pagadora, não têm como sonegar imposto”, atesta o fiscal da Receita Federal Cristóvão Barcelos Nóbrega, que há dez anos pesquisa, de maneira independente, o Imposto de Renda de Pessoa Física. “O brasileiro médio pode até sentir um certo desconforto com o pagamento do imposto, mas cumpre suas obrigações com o Fisco”, diz Nóbrega. Não são os assalariados os responsáveis pelos R$ 825 bilhões de renda tributável – 42% do total nacional – que passaram ao largo da mordida do leão no ano passado, segundo dados da Receita Federal divulgados em janeiro de 1999.  (…)
Em seu depoimento à CPI dos bancos, o secretário da Receita Federal, Everardo Maciel, admitiu que há “um PIB inteiro” transitando pelo sistema financeiro sem ser tributado. (…)
Caixa-preta – O vice-presidente nacional do PT, deputado federal José Genoíno, quer pôr ordem na casa já, inclusive com a investigação dos altos escalões da República. “A remessa de divisas para o Exterior é uma caixa-preta que tem de ser investigada”. Ele espera que o Ministério Público investigue a fundo o suposto envolvimento do ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco, do ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, Andrea Calabi, e do atual presidente da Caixa Econômica Federal, Emílio Carazzai Sobrinho, numa suspeita de remessa irregular ao Exterior.
De acordo com o Banco Central, mais de R$ 124 bilhões deixaram o país por meio de contas CC-5. O Ministério Público apurou o envio pelas contas CC-5, mantidas por residentes no Exterior. “O envio dessas remessas nunca foi transparente, nunca foi fiscalizado. Chegou a hora de investigarmos”, disse Genoíno. Com essa apuração, o Ministério Público procura provas de sonegação fiscal e evasão de divisas.
Agora entende-se porque Genoíno se tornou alvo do ódio de alguns setores. Ele foi um dos que tentou investigar a descarada evasão de divisas praticada durante o governo FHC.

Mas aí veio mensalão, e o Brasil esqueceu de todas as grandes maracutaias que vinham sendo, mal ou bem, investigadas, tanto por autoridades quanto pela imprensa. As atenções todas se voltaram para o mensalão e José Dirceu passou a encarnar a essência do mal.

A crescente pressão das ruas exigindo dos governos que acelerem as reformas sociais poderia representar uma excelente oportunidade para criarmos leis mais severas contra a sonegação. Não para espremer a já sofrida classe média, mas para pegar os grandes tubarões da economia, que sonegam bilhões. Receio que esta é uma bandeira, porém, que não será liderada pela Globo Oversea Investments BV…

Sem contar que ainda estamos esperando a Globo mostrar o Darf…

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Já imaginou como seria se os jornais resolvessem se dedicar à verdade?
(9ago2013)

Por que o Washington Post se vendeu ao homem da Amazon

Por Jon Rappoport, em seu blog

Poderíamos começar com o fato de que o comprador, Jeff Bezos, o chefe na Amazon.com, é um participante Bilderberg. De modo que o jornal "permanece na família".

Mas o Post foi vendido porque estava tendo uma hemorragia de dinheiro.

Estava indo fundo no vermelho por causa da internet - não, esqueça isso. Estava afundando em dívidas porque estava falhando em dar às pessoas o que elas queriam:

A verdade.

Lá está.

E é por isso que outros "grandes" jornais estão também batendo nas pedras.

A verdade vende. Quem sabia?

Por outro lado, as mesmas mentiras cansadas das mesmas fontes cansadas estão desgastadas. Os mesmos contextos pesadamente restritos em torno das histórias das notícias põem os leitores para dormir.

Há um modo de os jornais impressos poderem sobreviver e obterem sucesso, mesmo agora. Mas eles teriam que cancelar sua filiação ao Psyop Club [NT: acredito tratar-se do corpo de operações psicológicas das forças armadas dos EUA].

Esses jornais têm grandes recursos. Eles têm repórteres que, se deixados soltos, sem restrições, fatalmente aprenderiam como cobrir uma história verdadeira. Qualquer um deles poderia.

E cobrir uma história explosiva, do ângulo do editor e do publicador, significa bater nela semana após semana, mês após mês. Significa imprimir, por vezes, duas edições do jornal num dia, porque a história está muito quente.

Significa escavar mais e mais fundo, o que resulta em fontes que anteriormente estavam silentes saindo do armário e adicionando novas peças. A história cresce. Ela faz brotar novos ramos. Ela envolve mais. Ela acusa múltiplos criminosos. Ela expõe raízes.

Esse é o modo como se supõe que o jornalismo deva trabalhar. Envolvimento máximo [NT: aqui o autor usa a expressão idiomática "balls to the wall"].

Espera-se que o jornalismo deixe os leitores ansiosos e excitados e em fogo para comprarem a mais nova edição.

Espera-se também que ele estilhace a realidade. Agora estamos baixando no ponto. É disso que repórteres e publicadores têm medo. Estourar a bolha da realidade.

Por exemplo - o estudo que eu tenho citado frequentemente: 26 de julho de 2000, Journal of the American Medical Association, Dra. Barbara Starfield, "Is US health really the best in the world"" ["A saúde nos Estados Unidos é de fato a melhor do mundo?"]

Starfield afirma que o sistema médico estadunidense mata 225.000 pessoas por ano. 106.000 delas morrem como resultado direto de drogas que foram aprovadas pelo FDA como seguras e efetivas.

Portanto, a cada década 2,25 MILHÕES de norte-americanos são mortos pelo sistema médico. 1.060.000 pessoas são mortas pelos medicamentos.

Isso estoura o senso de realidade do leitor. E é um ponto de partida para uma história de fato. Digo ponto de partida porque, na onda do choque inicial e as negativas dos experts médicos (o que põe a eles e a suas mentiras em registro), o jornal dá partida a uma investigação plena.

Há uma enormidade de pessoas com quem conversar. Médicos emergirão das sombras e confirmarão os números das mortes. Mais médicos aparecerão em seus calcanhares. Isso significa novas histórias. Isso significa prender os mentirosos em suas próprias declarações.

Um dos setores mais pesadamente protegidos da sociedade (o cartel médico) começa a se inflamar a partir da verdade. Ele se desmonta em chamas. Ele não pode defender a sí próprio.

Os repórteres ganham um senso para o que é uma história de verdade. Eles semtem como se tivesse sido tirados de uma prisão. Eles acordam de seu transe. Seus próprios chefes estão dizendo a eles para dizerem toda a verdade e para torpedear os bandidos.

A FDA subitamente se banha nos refletores. Aquela agência certificou todas os remédios assassinos como sendo seguros e efetivos. Como? Com base em quê? Quais acordos espúrios foram tramados com a indústria farmacéutica? Este aspecto da história está esperando para ser trabalhado por meses. Emerge um denunciante desde a FDA. A Agência é revelado como um empreendimento trapaceiro assassino que vem operando fora da lei por décadas.

Temos então os CDC [NT: Centers for Disease Control and Prevention]. Supõe-se que eles devam o levantamento e o relato dos dados de mortalidade. Mas eles não têm dito nada acerca de mortes medicamente induzidas nos Estados Unidos - o que está classificado como a terceira maior causa de mortes, atrás apenas das doenças cardíacas e do câncer. Os CDC têm olhado para o outro lado. Eles vêm para a mira.  Ratos guinchando fogem das sombras.

E o que dizer das tão propaladas escolas de medicina dos Estados Unidos? Por que elas não expuseram o sistema médico como sendo um matador? O que tem acontecido lá dentro? Quem está pagando as despesas?

Temos as agências governamentais, os Institutos Nacionais de Saúde, sugando bilhões e bilhões de dólares federais. Eles não relataram nada sobre o assunto.

E a indústria farmacêutica está vendendo venenos letais como se não houvesse amanhã.

Após alguns meses, essa história é um maremoto.

O jornal não afrouxa. Ele ataca. Seu pessoal aprende o que significa o que é ser implacável.

Alguns anunciantes cancelam e se afastam. Mas outros vêm para bordo, porque os gráficos de circulação do jornal estão passando do telhado.

Se um grande jornal cobrisse uma centena de histórias dessa magnitude, ele poderia esquecer o vermelho e ele veria somente o preto. Ele expulsaria os competidores para fora da água.

Verdade seja dita, é fácil editar um jornal dessa maneira. Você deixa seus repórteres farejarem uma grande história e deixa os sabujos perdidos. Não é complicado.

Bem, você diz, este é um grande sonho mas isso nunca aconteceria. E você está certo. Mas aqui está o golpe. Nesses dias de informação, NÃO seguir esse caminho da verdade garante a morte de uma organização jornalística. Fatalmente ela murchará e morrerá.

Assim, o que estamos vendo com o Washinton Post e o NY Times e outros grandes jornais é: suicídio.

A venda do Washinton Post não representa um dia triste. Não é algo para os "veteranos do ramo jornalístico" lamentarem. Seus elogios são um autosserviço de nonsense. Mais bobagem dos fazedores de bobagens.

Isso é motivo para celebração. Se as pessoas tivessesm algum sendo, elas estariam dançando nas ruas. Outra máquina de mentiras cambaleou.

Um jornal é um pensamento para o pensar público. Ele seleciona as histórias importantes, ele formata a informação para aquelas histórias, ele fornece o contexto, ele decide quais fontes valorizar, ele enterra e ignora outras histórias. Ele somente é valioso quando ele reflete o que as pessoas de fato querem saber.

Caso contrário, ele esculpe falsas realidades. Por meio de parcerias dissimuladas, por meio da influência do dinheiro, ele se torna uma operação de guerra psicológica.

Suas habilidades estão devotadas para encobrir os fatos. Ele deve parecer estar fazendo todas as coisas que esperamos de autênticos investigagores, enquanto não estão fazendo nada dessas coisas.

O Washington Post poderia lançar uma nova política amanhã, que consistiria inteiramente em oferecer uma explicação detalhada de como ele tem enganado seus leitores pelos últimos 50 anos. Essa seria toda a substância de seus futuros exemplares - e iria vender mais jornais do que está vendendo agora.

Escolas de jornalismo poderiam começar a ensinar aos estudantes como inventar realidades espúrias a partir do zero, peça por peça. Trazer tudo isso para campo aberto.

Todo grande jornal é uma agência de inteligência disfarçada. Suas ações espelham aquelas de uma CIA ou um MI-6. Agentes (repórteres), oficiais de casos (editores), matérias de capa falsas, redutos limitados, a invenção de inimigos superficiais, ataques de falsa-bandeira.

Os agentes (pessoal de reportagem) são os verdadeiros crentes. Eles apóiam e sustentam toda a operação por suas convicções de que a ilusão é real. Aqueles repórteres que não aceitam a ilusão podem manter seus empregos dando continuidade à charada e mantendo suas bocas fechadas.

Se eles falarem, eles perdem. Eles são demitidos e banidos.

Os jornais têm um padrão "livro dos sonhos". Todas as histórias emanam daquele livro, o qual estabelece o contexto a partir do qual as reportagens procedem.

E assim é com as vidas da maioria das pessoas. Elas percebem a realidade e respondem a ela de modos padronizados. Elas existem dentro de limites definidos.

Mas quando uma civilização declina, as pessoas anseiam por uma saída. Elas querem algo novo. Elas querem espaços abertos.

Se, por algum milagre, grandes jornais oferecessem uma saída das realidades de camisa de força, expondo a manipulação subjacente do conterole mental informacional, eles não conseguiriam imprimir edições suficientes para satisfazer seus consumidores.

Mas eles preferem o suicídio. Que assim seja.


Jon Rappoport
Autor de duas coleções explosivas, THE MATRIX REVEALED e EXIT FROM THE MATRIX, Jon foi candidato a um assento no Congresso dos EUA pelo 29º Distrito da California. Indicado para um Prêmio Pulitzer, trabalhou como repórter investigativo por 30 anos, escrevendo artigos sobre política, medicina e saúde para CBS Healthwatch, LA Weekly, Spin Magazine, Stern, e outros jornais e revistas nos Estados Unidos e na Europa. Jon ministrou palestras e seminários sobre política global, saúde, lógica, e poder criativo para audiências por todo o mundo. Você pode se inscrever para receber gratuitamente seus e-mails em www.nomorefakenews.com

Tradução: Aquiles Lazzarotto