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Geólogo e professor aposentado, trabalho este espaço como se participasse da confecção de um imenso tapete persa. Cada blogueiro e cada sitiante vai fazendo o seu pedaço. A minha parte vai contando de mim e de como vejo as coisas. Quando me afasto para ver em perspectiva, aprendo mais de mim, com todas as partes juntas. Cada detalhe é parte de um todo que se reconstitui e se metamorfoseia a cada momento do fazer. Ver, rever, refletir, fazer, pensar, mudar, fazer diferente... Não necessariamente melhor, mas diferente, para refazer e rever e refletir e... Ninguém sabe para onde isso leva, mas sei que não estou parado e que não tenho medo de colaborar com umas quadrículas na tecedura desse multifacetado tapete de incontáveis parceiros tapeceiros mundo afora.

terça-feira, 16 de julho de 2013

BLACK BLOCS: de vândalos (na grande mídia) a Linha de Frente
(16jul2013)

Reproduzido do sítio Fazendo Media

Os anarquistas em passeata na Alemanha

Em ‘assembleia’, ‘black blocs’ discutem como escapar da polícia

da Folha.com

Com bandeiras pretas nas mãos, um grupo discutia estratégias para escapar do monitoramento de policiais e imprensa. Em sua maioria, eram jovens que vestiam roupas pretas, característica dos adeptos da filosofia anticapitalista “black bloc”.

A assembleia foi improvisada após protesto “pela democratização dos meios de comunicação”, que foi até a sede da TV Globo, zona sul de São Paulo, anteontem.

Antes, eles picharam muros da emissora e tentaram depredar um ponto de ônibus e uma agência bancária, alvo preferencial dos atos do grupo.

Os “blocs” surgiram na Europa, apoiando movimentos sociais em protestos. No Brasil, começaram a aparecer durante os atos do Movimento Passe Livre, em junho.

Segundo seus criadores, trata-se de uma forma de protestar — com a depredação de patrimônio público e privado –, e não um grupo.

Na reunião, acompanhada pela Folha, não havia líderes. Quem queria falar levantava o braço e aguardava sua vez. Quem concordava, sacudia as mãos de forma semelhante a palmas em libras, a língua brasileira de sinais.

O grupo discutia sua participação em protestos futuros e a melhor forma de comunicação entre os membros. Um deles, que dizia ser moderador da página “Black Bloc SP” no Facebook, reclamava que frequentemente tinha o acesso bloqueado.

A avaliação entre todos é que a página, por ser aberta, é monitorada “pelos P2″ (policiais disfarçados).

Uma garota sugeriu, então, que todos passassem a usar a rede social N-1 (alternativa ao Facebook) e que fosse criado um código de acesso.

Outro rapaz defendeu que fosse criada uma página hospedada em servidores na Rússia ou em Taiwan, “impossíveis de derrubar”. “A tecnologia evolui muito e na internet sempre vai ser uma disputa de gato e rato”, afirmou.

O assunto mudou quando outro jovem pediu para que adeptos participassem de seu programa na internet para falar da filosofia do grupo anarquista. Ele carregava uma bandeira preta e vermelha, que disse ter sido usada pelo avô anarquista na Guerra Civil Espanhola (1936-39).

Sem resposta, o jovem agradeceu e se despediu em francês: “Liberté, égalité, fraternité pour tout le monde” –liberdade, igualdade e fraternidade (um dos lemas da Revolução Francesa, 1789) para todo o mundo.


‘Blocs cariocas’

No Rio, quase uma hora depois de iniciada a passeata das centrais sindicais pelo Dia Nacional de Luta, surgiram jovens que tiraram camisetas, máscaras, casacos e bandeiras pretas de mochilas. Nas mãos, pedras e coquetéis molotov.

De repente, uma grande massa se formou e entrou na passeata: eram os “black blocs” cariocas. A presença de partidários do movimento era esperada, tanto que as centrais contrataram seguranças com a incumbência de mantê-los afastados da manifestação.

Grupos de anarcopunks, alguns deles estudantes de universidades como USP, PUC e Mackenzie, estão entre os que agem como “black blocs” em São Paulo, conforme apuração da Delegacia de Crimes de Intolerância (Decradi).

Segundo um investigador, que pediu anonimato, os grupos em atuação no país são diferentes dos europeus, que, em alguns casos, têm líderes.

Ele diz que o movimento de hoje tem entre seus adeptos universitários, de classe média, diferentes do MAP (Movimento Anarcopunk), nascido no Reino Unido dos anos 1970.

(André Monteiro, Flávio Ferreira, Giba Bergamin Jr. e Marco Antônio Martins)


* * * * *

Criminalização dos Black-Blocs: uma armadilha

Por Mariana Corrêa dos Santos*, no Das Lutas, via Facebook

Observamos nos últimos dois dias, e bem de perto, a criminalização do jovem ativismo anarquista, como outros movimentos também foram criminalizados num passado não muito distante. Durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, os movimentos do campo passaram por criminalizações similares, invenções midiáticas de invasão de terras “supostamente” produtivas, num claro revide contra a Reforma Agrária pleiteada. Com o auxílio da mídia convencional, esses movimentos foram taxados de vândalos, bárbaros, destruidores e um atraso para o desenvolvimento do país.

O que temos pra hoje são “caixas” e “mochilas” de molotovs confeccionados em garrafas de mesma marca, quase uma produção fabril, colocadas no chão por possíveis policiais infiltrados, ao lado dos Black Blocs que marchavam na Av. Rio Branco. Cenas que foram capturadas em câmera pelas mídias independentes. Esses mesmos infiltrados agem como se “descobrissem” os molotovs, e responsabilizam os grupos anarquistas. Ao reproduzir novamente o discurso de que esses jovens são os responsáveis pelos conflitos, a mídia convencional só pode partir da presunção de que toda uma população ainda está imbecilizada. É esquecer que, ao custo de muita bomba e bala de borracha, as mídias independentes retiraram o véu de qualquer mentira e armação, e estão acessíveis a quase todos aqueles que buscam informações.

Quem está desde junho nas ruas sabe que os movimentos anarquistas, em especial os Black Blocs, servem de proteção aos manifestantes, pois colocam-se na linha de frente, com escudos e proteções, prontos para devolver bombas aos seus atiradores. Sem essa linha de frente, quem estava na Presidente Vargas no dia 20/06 não teria saído a tempo sem ser pisoteado, baleado, ou fortemente intoxicado.

O que precisa ser discutido, e parece esquecido nessa busca por culpados e pela criminalização de novos grupos ativistas anti-sistema, é a violência escalonante da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Esse é o debate. Não pode ser naturalizado uma criança de cerca de 8 anos desmaiada no meio da Cinelândia por intoxicação de gás lacrimogênio. Não pode ser considerado normal que a polícia faça duas linhas fechando a Av. Rio Branco, e uma linha lateral onde obrigatoriamente seria o escoamento, e jogar spray de pimenta em todos que passavam.

A polícia carioca age na surdina, com carros envelopados sem identificação, atirando em manifestantes que já haviam dispersado. Persegue manifestantes por ruas, bairros, longos percursos, atirando bombas em hospitais, em residências, em passantes, bares, praças, deliberadamente, e planejadamente. Não são despreparados, são uma máquina de repressão comandada pelo Estado.

Aos que tem acesso à informação, não permitam que se criminalize mais um grupo social simplesmente por existir e por questionar o poder vigente. É preciso encampar essa luta, é preciso desmilitarizar, desarmar essa máquina de matar. Pois, como bem diz uma das faixas das manifestações: “A mesma polícia que reprime no asfalto é a que mata nas favelas”. E o que vai acontecer quando esse grupo que é a linha de frente das manifestações for criminalizado? As balas vão deixar de ser de borracha no asfalto também?

“É preciso estar atento e forte…”

*Mariana é integrante Das Lutas

(*) Fonte: Vi o mundo.

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