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Geólogo e professor aposentado, trabalho este espaço como se participasse da confecção de um imenso tapete persa. Cada blogueiro e cada sitiante vai fazendo o seu pedaço. A minha parte vai contando de mim e de como vejo as coisas. Quando me afasto para ver em perspectiva, aprendo mais de mim, com todas as partes juntas. Cada detalhe é parte de um todo que se reconstitui e se metamorfoseia a cada momento do fazer. Ver, rever, refletir, fazer, pensar, mudar, fazer diferente... Não necessariamente melhor, mas diferente, para refazer e rever e refletir e... Ninguém sabe para onde isso leva, mas sei que não estou parado e que não tenho medo de colaborar com umas quadrículas na tecedura desse multifacetado tapete de incontáveis parceiros tapeceiros mundo afora.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O fascinante exercício de acompanhar as mudanças | Alberto Dines (19dez2011)

Por Alberto Dines, no Observatório da Imprensa.

A crise do euro vai para a editoria de Economia ou de Internacional? Em que página será noticiada a primeira fissura na coalizão conservadora-liberal que governa a Inglaterra, se o gatilho deste desentendimento político foi uma decisão econômica tomada solitariamente pelo premiê David Cameron ao ficar na contramão da União Europeia, toda ela empenhada em salvar a moeda única?

Comunicadores e consultores que nunca trabalharam na mídia impressa consideram inevitável o fim da Era Gutenberg, por isso não percebem que a autarquização do noticiário em especialidades estanques e artificiais caminha na direção contrária do jornalismo holista (ou holístico) que sempre caracterizou os grandes jornais e revistas.

A interdependência de hoje não ocorre apenas na esfera geopolítica – os temas interagem, infiltram-se e tornam-se velozmente convergentes, contíguos. O noticiário sobre as mudanças climáticas é imperiosamente abrangente, não pode se resumir às questões puramente científicas, desdobrando-se pelo terreno da economia e também da política.

O jornal ou revista que não atender à múltipla curiosidade e ao olhar circular do leitor contemporâneo está fadado a perdê-lo. Este é um dado que as cassandras apocalípticas não perceberam porque cassandras são, por definição, lineares e simplistas.


Perspectivas estreitas

Os desafios oferecidos pelo jornalismo contemporâneo contêm um espectro temático tão amplo quanto os oferecidos conjuntamente pela revolução industrial, o iluminismo e o liberalismo no fim do século 18.

O problema não se resume apenas à distribuição do material informativo nas páginas e cadernos dos veículos impressos. A mesma elasticidade deverá fatalmente ser empregada na avaliação dos acontecimentos e tendências. O mau-humor das agências internacionais de rating com a dupla Mer+kozy não acontece por acaso, não se trata de idiossincrasia pessoal: os dois líderes europeus estão empenhados em regular o mercado financeiro e esta regulação compreende a atuação e até mesmo a lisura das entidades classificadoras. Os ratings são um negócio que controla outros negócios e esses outros negócios compõem o processo econômico como um todo. Têm contas a prestar, não são infalíveis, podem liquidar uma geração.

O momento é fascinante – pelo teor do que está acontecendo, mas também pelos incríveis encadeamentos com que os fenômenos se processam. Nestas circunstâncias tão amplas e tão sutis, o jornalismo digital fica limitado pelo seu fluxo ininterrupto. Em movimento, as perspectivas são sempre mais estreitas. E o jornalismo impresso – desde que aproveitadas suas vantagens intrínsecas – fica livre para relatar e relacionar as transformações como tem feito nos últimos duzentos anos.

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