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Geólogo e professor aposentado, trabalho este espaço como se participasse da confecção de um imenso tapete persa. Cada blogueiro e cada sitiante vai fazendo o seu pedaço. A minha parte vai contando de mim e de como vejo as coisas. Quando me afasto para ver em perspectiva, aprendo mais de mim, com todas as partes juntas. Cada detalhe é parte de um todo que se reconstitui e se metamorfoseia a cada momento do fazer. Ver, rever, refletir, fazer, pensar, mudar, fazer diferente... Não necessariamente melhor, mas diferente, para refazer e rever e refletir e... Ninguém sabe para onde isso leva, mas sei que não estou parado e que não tenho medo de colaborar com umas quadrículas na tecedura desse multifacetado tapete de incontáveis parceiros tapeceiros mundo afora.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Redes sociais trazem Allende à tona, furando bloqueio midiático (13set2011)

Allende vive – Twitter fura bloqueio midiático à História


Em 11 de setembro de 1973 se encerrava um governo popular, socialista e democrático que trazia belas perspectivas ao Chile e à América Latina. No mesmo dia, no mesmo lugar, tinha início a mais sangrenta ditadura que o continente americano já viveu. O Palácio de La Moneda, sede do governo chileno, era bombardeado pelos golpistas aliados ao governo norte-americano, morria Salvador Allende e chegava ao poder o general Augusto Pinochet. Na ditadura instaurada a partir daí, e que durou até 1990, calcula-se que tenham sido assassinadas mais de 50 mil pessoas, além de a tortura ter sido prática comum.


No último domingo completaram-se 38 anos da morte de Allende e da ascensão de Pinochet, e um silêncio doído tomou conta da mídia hegemônica brasileira. No Fantástico, da Rede Globo, e no Domingo Espetacular, da Rede Record, nenhuma palavra, nenhuma lembrança sobre a morte de Allende ou sobre as tantas violências que daí decorreram. A morte de Allende foi uma pequena morte para o povo chileno.


Enquanto sua revista semanal silenciava sobre o Chile, a Rede Globo fez, durante toda a semana, uma enorme cobertura do “outro” 11 de setembro, o mais recente, no qual morreram quase 3 mil pessoas nos Estados Unidos.


É inegável a importância histórica do 11 de setembro norte-americano. Um ataque diferente do usual, em um país que nunca fora atacado nessa escala, e que deu início a mudanças profundas pelo mundo, começando pelo avanço da xenofobia contra os povos árabes e muçulmanos e chegando, é claro, aos centenas de milhares de civis assassinados pelos Estados Unidos no Afeganistão e no Iraque. Além disso, a data redonda (dez anos), ao contrário dos 38 da morte de Allende e do Golpe no Chile, justificam efetivamente uma cobertura maior.

Porém, 25 minutos tratando dos acontecimentos em torno do World Trade Center e nenhum instante para falar de Allende e Pinochet é uma distorção histórica grave. Como disse acima, o bombardeio ao La Moneda deu início a uma forma de terror ainda mais grave do que o terrorismo da Al Qaeda: a situação em que o Estado, representação institucional da sociedade, aterroriza a própria população que deveria proteger. Foi parte de uma estratégia internacional, com particularidades locais, de combate aos governos progressistas – muitos nem tanto – que se espalhavam pelo mundo. Quase toda a América Latina foi, no mesmo período, violentada por Ditaduras Militares apoiadas pelos Estados Unidos, e o Chile foi a expressão máxima da repressão e da violência de Estado, além de ver morrer uma das lideranças mundiais mais importantes daquele contexto de avanço democrático popular.

Tudo isso foi ignorado pela grande mídia brasileira, mas não pelas redes sociais. Durante uma boa parte do dia a hashtag (etiqueta, ou marcador) #AllendeVive esteve entre a segunda e a terceira colocação entre as expressões mais citadas no Twitter. Algumas pessoas relatavam não saber bem o que significava ou quem fora Allende, e acabaram se informando por ali. O bloqueio midiático à História foi furado mais uma vez.


* O último discurso de Salvador Allende


* Documentário do cineasta Ken Loach, traçando um paralelo entre os dois 11 de setembro, 1973 e 2001

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Publicado no blog Jornalismo B em 12 de setembro de 2011.

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