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Geólogo e professor aposentado, trabalho este espaço como se participasse da confecção de um imenso tapete persa. Cada blogueiro e cada sitiante vai fazendo o seu pedaço. A minha parte vai contando de mim e de como vejo as coisas. Quando me afasto para ver em perspectiva, aprendo mais de mim, com todas as partes juntas. Cada detalhe é parte de um todo que se reconstitui e se metamorfoseia a cada momento do fazer. Ver, rever, refletir, fazer, pensar, mudar, fazer diferente... Não necessariamente melhor, mas diferente, para refazer e rever e refletir e... Ninguém sabe para onde isso leva, mas sei que não estou parado e que não tenho medo de colaborar com umas quadrículas na tecedura desse multifacetado tapete de incontáveis parceiros tapeceiros mundo afora.

domingo, 31 de julho de 2011

Uma calma canção para o domingo à noite (31jul2011)

My heart is split
Athony Johnson

É preciso conter os efeitos corrosivos do capitalismo (31jul2011)

Artigo publicado no sítio Maria Frô em 28 de julho de 2011.

Neoliberalismo: a maior ameaça aos valores ocidentais

Por Tarak Barkawi
Al-Jazeera, Catar
Tradução: Vila Vudu
27/7/2011

O estilo paranóico de fazer política frequentemente constrói as mais improváveis alianças, que se converteriam em terríveis ameaças, a serem destruídas por todos os meios necessários.

Em Choque de Civilizações, Samuel Huntington inventou um oriente amalgamado – uma aliança entre potências “confucianas” e “islâmicas” – que desafiariam o ocidente, para arrebatar-lhe o cetro da dominação mundial. Muitos jihadis temem a aliança de Cruzados entre judeus e cristãos. Esquecem que, há bem pouco tempo, em termos históricos, populações cristãs foram empenhados carrascos dos judeus.

Agora, Anders Breivik invocou um improvável eixo de marxismo, multiculturalismo e islamismo que, unidos, ameaçariam colonizar a Europa. Dado que vê o multiculturalismo como conspiração, Breivik conseguiu misturar velhos discursos fascistas numa só nova conspiração de comunistas, judeus e muçulmanos.

Como outros terroristas que matam em nome de seitas islâmicas, Breivik quer massacrar pessoas em nome de uma pureza inventada. A Noruega moderna só se tornou estado soberano em 1905; é retardatária, pode-se dizer, na comunidade das nações. No plano imaginário, é resultado da imaginação de vikings, exploradores do Ártico e assistentes humanitários de todo o planeta.

Se se considera a rapidez com que a literatura jihadi é descartada como loucuras, chama a atenção o quanto tantos estão levando a sério o mix ideológico ensandecido de Breivik. É fenômeno muito preocupante as análises que dizem que se deveriam enfrentar com mais atenção “as causas radicais” da loucura de Breivik – a imigração e a diferença cultural. Se assim não for feito, as sociedades europeias perderão a coesão social, para usar eufemismo muito recorrente para a “coesão do Volk [povo]”.

Se se acredita nisso, até se poderia perdoar a extrema direita que conclua que o terrorismo funciona. Quanto ao resto da humanidade, que hoje assiste a terroristas que se reimaginam, dos dois lados de batalhas obscuras de um passado mítico, podemos bem sentir saudades dos insurgentes e revolucionários de antigamente e suas guerrilhas anticoloniais. Esses, pelo menos, sabiam oferecer argumentos plausíveis a favor de suas lutas.

Para garantir-se, taticamente falando, Breivik construiu uma reflexão, enquanto preparava sua operação. Mas, diferente de muitos jihadis, faltou-lhe a indispensável coragem para enfrentar inimigos armados como ele, e para oferecer a própria vida – além de vidas alheias – à causa em que crê. Apesar disso, quis que sua rápida aparição em cena tivesse algum tipo de solenidade e uniforme militares.

Uniformes bem talhados por alfaiates – essa aberração da diferença cultural – e um desejo de pureza racial são itens que nunca faltam ao misticismo fascista. Como na ideologia jihadi, são precisamente os elementos não racionais do fascismo que lhe dão potência emocional e, portanto, política. Porque o que Breivik e outros veem como ameaçada no ocidente é a fonte do significado, os valores essenciais, que eles associam à comunhão com um povo purificado.

Dado que o ocidente não enfrenta, obviamente, nenhuma ameaça existencial dessa escala e de tão amplo significado, é preciso inventar uma. Nesse preciso ponto, a improvável aliança de partidos de esquerda e o Islã cumpre sua função, com uma pressuposta invasão em massa de muçulmanos para colonizar a Europa. Na população da Noruega, há menos de 3% de muçulmanos; na Grã-Bretanha, menos de 5%. Apesar disso, o medo fantasmático de “perder” a Europa para o Islã anima muitos direitistas; é parte da política eleitoral dominante na Europa e há muito tempo é item sempre presente nos discursos da direita nos EUA.

Nessa visão de perigo ameaçador, o multiculturalismo tem papel chave. Muitos terão percebido a estranha referência, nos escritos de Breivik, a “marxistas culturais”, gente que eu, pessoalmente, só vi, e sempre em grupos pequenos, em departamentos de grandes universidades e em bares frequentados por universitários recém-formados. Breivik faz referência à Escola de Frankfurt, um grupo de intelectuais judeus alemães que trocaram Hitler pelos confortos ocidentais cosmopolitas de New York.

A ideia é que “judeus” teriam encorajado a mestiçagem cultural no ocidente, comprometendo assim, fatalmente, a pureza do ocidente e, portanto, os valores ocidentais, ao mesmo tempo em que muçulmanos e judeus preservariam as respectivas força e identidade culturais. A Europa, pois, declararia “independência” e iniciaria o combate contra as hordas muçulmano-judeu-marxistas, a começar, parece, por matar os mais jovens.

Pode-se assumir que Breivik confundiu as fantasias dos jogos de computador de que é adepto – seu avatar é uma loura de busto avantajado, codinome “Conservadorismo” – e análise política. Mas o que realmente assusta é que o núcleo mais duro de sua visão do multiculturalismo como ameaça ao ocidente aparece, idêntico, também nos grandes partidos políticos na França, na Grã-Bretanha, na Alemanha e na Itália, dentre outros países. Por isso, precisamente, há alto risco de que a matança covarde de Breivik alcance alguns de seus objetivos. A imigração, dirá alguém, desequilibrou a homogeneidade do “nosso” povo. Já se ouve, aliás, precisamente isso, em todas as potências ocidentais.


Cale a boca, obedeça e colabore

A ironia disso tudo, é que o ocidente já nos impôs o império em escala global, extraindo sua força cultural, econômica e política das interconexões com todas as partes do mundo. As Cosmópolis de New York, Londres e Paris – um ocidente ‘moreno’, não mais ‘branco’ – são vitrines muito mais perfeitas de um ocidente cheio de arrogância, poder e confiança em seus valores, que qualquer purificação fantasiosa construída em campos de trabalhos forçados e fronteiras fechadas.

Mas… o que estaria corroendo os valores ocidentais?

Essa foi uma das perguntas que mobilizaram a Escola de Frankfurt e os que a influenciaram. Dedicaram-se a pensar sobre a interação entre capitalismo e cultura. Apontaram os modos pelos quais o capitalismo, progressivamente, converteu tudo em produto que pudesse ser comprado ou vendido, medindo os valores só pelo valor mais baixo. Lentamente, mas sem jamais parar, essas medições passaram a aplicar-se também aos valores culturais no cerne da sociedade. Até o tempo, como nos ensinou Benjamin Franklin, é dinheiro, doutrina que horrorizou Max Weber, que acusou a mentalidade capitalista de ser uma “gaiola de ferro” sem “espírito”.

Vejam-se, por exemplo, os modos pelos quais as grandes vocações profissionais do ocidente – advogados, jornalistas, professores-doutores, médicos – foram cooptados e corrompidos pelo pensamento de melhor preço de compra/venda. Dinheiro e “eficiência” são os valores pelos quais nos norteamos e pelos quais damos a vida; não a lei, a verdade ou a saúde. Os alunos são imaginados como “consumidores”; os cidadãos, como “acionistas”. As associações profissionais defendem pisos salariais, não qualquer dos valores que elas existem para manifestar. Alunos formados pelas universidades de elite do ocidente, imbuídos do que aprenderam de nossos maiores pensadores, são mandados trabalhar em empresas como News International. Ali aprendem a calar a boca, obedecer e colaborar no serviço imundo da exploração em busca do lucro, serviço pelo qual são bem recompensados, pelo menos em termos financeiros.

Graças em parte à força das garras do poder incorporado na imprensa e nos grandes partidos políticos, poucos hoje, no ocidente, conseguem imaginar qualquer outra política que não seja a política da ‘grande finança’. Nos EUA, e cada dia mais na Europa, a diferença de renda entre os pobres e os ricos aproxima-se da que se vê em repúblicas-de-banana. Os mais pobres são mandados arcar sob o peso de uma crise financeira criada por banqueiros. Os ricos, nos EUA, despacham os filhos para acampamentos de verão a bordo de jatos privados, em país no qual a taxa de desemprego já ultrapassou 15%.

O neoliberalismo só fez acelerar esses processos no coração da sociedade capitalista. Aqui, sim, se vê ameaça muito mais grave aos valores ocidentais e à “coesão social”, que qualquer medo inventado por fascistas lunáticos. O mais grave é que essa ameaça vem de dentro, não de fora.

Na linha de frente da resistência contra essa ameaça, isso sim, lutam partidos como o Partido Trabalhista da Noruega – alvo que Breivik escolheu.

É preciso conter os efeitos corrosivos do capitalismo e, só assim, se poderá pensar em garantir alguma sobrevivência aos valores ocidentais humanos.

Argumentos contra a ladainha midiática sobre a desindustrialização do Brasil (31jul2011)

Enquanto estou ao computador, deixo a TV ligada em canais de notícias. Assim, acabo de ouvir na BandNews uma ladainha que vem sendo "cantada" incansavelmente pela grande mídia: a desindustrialização do Brasil. Lembrei-me imediatamente do texto escrito por Miguel do Rosário, trazendo pesquisas feitas por ele para desmistificar esse discurso urubológico midiático.

O autor traz dados que mostram que a coisa não é bem assim como a imprensa (golpista) insiste em fazer parecer. Como gosto de argumentações bem fundadas, trago o estudo postado no blog do autor, o Óleo do Diabo.

Sobre a desindustrialização

Por Miguel do Rosário


Um leitor-amigo entrou em contato comigo para acusar o projeto de governo Lula/Dilma como sendo uma regressão à economia primário-exportadora. Eu respondi que iria buscar dados para respondê-lo e fazer uma análise baseada não em informações tendenciosas colhidas fragmentariamente na grande mídia, mas em fatos concretos.

Adiantei-lhe, porém, que a acusação de economia "primário-exportadora" costuma se fazer a países cuja economia ancoram-se na exportação de produtos primários. Embora a exportação deste tipo de produto seja muito importante para o Brasil, a nossa economia tem crescido baseada principalmente no consumo doméstico.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) tem dados completos sobre a produção industrial no país. Preparei uma tabela para a gente analisar, com dados de fevereiro de 2002 a fevereiro de 2011. Clique nela para ampliar:


A tabela acima é apenas um resumo com os 20 subsetores industriais que mais cresceram. A tabela com todos os subsetores industriais do país, também devidamente editada, encontra-se neste link.

O IBGE divide a produção industrial brasileira em 73 subsetores. Deste total, apenas 13 apresentaram queda de 2002 até hoje, e mesmo assim, quedas suaves. Destes 13 subsetores, apenas um é realmente relevante à produção industrial brasileira: o setor de calçados, cuja produção caiu 20% de 2002 até hoje, certamente em função da concorrência dos produtos chineses.

De resto, o IBGE mostra um crescimento firme de quase todos os setores industriais importantes, com destaque para a indústria ligada ao setor de transportes: aviões, caminhões, ônibus, carros, motos, tratores e navios. Também registrou-se um crescimento relevante na produção de eletrodomésticos.

Tivemos um crescimento apenas medíocre de um subsetor fundamental, o de material eletrônico e aparelhos de comunicação: apenas 17% de 2002 até 2011. Entretanto, sabemos que estes produtos hoje são produzidos quase que exclusivamente na Ásia, que nós jamais os fabricamos em escala significativa.

Note que houve um crescimento de 60% num subsetor extremamente importante, porque serve de base para crescimentos maiores no futuro: o de máquinas e equipamentos para fins industriais e comerciais.

Até o momento, portanto, ainda não vi nenhuma "desindustrialização", ou regressão do Brasil a uma economia primário-exportadora.

Talvez eu esteja cometendo algum erro de interpretação. Peço aos que defendem a tese contrária, portanto, que me tragam informações e dados mais consistentes do que tem feito até o momento, porque senão serei obrigado a acreditar em... mim mesmo.

Por outro lado, não se pode negar que o declínio do dólar atrapalha fortemente o desejo da indústria brasileira de aumentar suas vendas externas. Mas o problema cambial é comum ao mundo inteiro, com exceção da China. Todos os países latino-americanos registraram forte valorização cambial. Nos EUA, o dólar, mesmo tendo caído, ainda é muito mais forte que a moeda chinesa e uma vez e meia o real: também é um problema lá. O Euro, uma das moedas mais fortes do mundo hoje, igualmente provoca estragos na indústria europeia.

Ainda não ouvi ninguém trazer uma solução concreta que não seja a loucura de fixar novamente o câmbio.


O comércio exterior

Na verdade, há uma confusão provocada pela forte alta das exportações brasileiras de produtos primários. A exportação de industrializados também cresceu de maneira bastante firme nos últimos 10 anos, embora não no mesmo ritmo explosivo das vendas externas de matérias-primas. Resultado: mesmo tendo crescido, as exportações de industrializados perderam participação percentual na receita total exportada. Olhando sob uma perspectiva mais longa, a participação de produtos básicos na exportação brasileira, que chegava a quase 90% na década de 60, vem caindo substancialmente nos últimos cinquenta anos, e o aumento verificado a partir o início dos anos 2000 não reflete, necessariamente, o fim dessa tendência, mas possivelmente apenas um ajuste a um aumento muito forte da demanda mundial por essas mercadorias, o que se refletiu num mega-incremento da quantidade exportada das principais commodities nacionais, combinado a uma acentuada alta nos preços das mesmas. O importante, reitero, é verificar que tem havido, nos últimos dez anos, um crescimento muito grande, em termos absolutos, concretos, das exportações de manufaturados.


Há várias maneiras de se averigar uma possível deterioração da qualidade das exportações. Uma delas são os "termos de troca", que é a relação entre o valor das importações e exportações de um país durante um ano. Nos últimos 12 meses, o índice de termo de troca registrou alta.


Nos últimos anos, aliás, os termos de troca têm apresentado um resultado bem positivo. Ou seja, o valor das exportações tem aumentado a uma proporção maior do que o aumento no valor dos produtos importados. Se alguém quer denunciar um processo de "primarização" da economia, portanto, não vai conseguir fazê-lo através de uma análise dos termos de troca, que indicam, ao contrário, uma sofisticação de nossa pauta exportadora.


Mas os termos de troca também refletem os preços maiores das commodities, então não podemos nos restringir a isso para avaliar a qualidade da exportação.

Os números do nosso comércio exterior mostram que houve, entretanto, um baque nas vendas de manufaturados, provocado pela forte crise financeira que se espalhou por todo mundo. Até então, as exportações de manufaturados vinham crescendo de maneira consistente. Em 2008, bateram um recorde histórico de 92,6 bilhões de dólare, caindo porém para 67,34 bilhões em 2009. Em 2010, assistem a uma vigorosa recuperação, alcançando 79,5 bilhões de dólares. Nos últimos 12 meses até maio de 2011, já subiram para 84,3 bilhões de dólares, alta de 16% sobre o período anterior.


Os números nos permitem dizer, portanto, que as exportações brasileiras de manufaturados se recuperam da crise financeira internacional, que ainda se faz presente sobretudo no mundo desenvolvido, mas não é justo afirmar que a economia brasileira está num processo de "primarização".

A produção industrial brasileira (não confundir com exportação) cresce, de qualquer forma, com exceção das fábricas de calçados, a um ritmo mais ou menos independente das oscilações do mercado externo. Seu principal destino não é a exportação, mas consumo pujante das famílias brasileiras.

Repare que a indústria de bens de capital, que produz os maquinários industriais e, por isso, é considerada um termômetro do setor, cresceu 20,4% em 2010, ou seja, bem acima do crescimento médio da economia brasileira (o PIB cresceu 7% no ano passado). Por esse aspecto, portanto, também não se vê nada que indique um processo de "desindustrialização".


Concluindo, entendo que a indústria brasileira enfrenta enormes desafios. A concorrência asiática tem sido predadora, terrível, às vezes covarde e praticando um verdadeiro dumping cambial. A situação da indústria nacional, por isso mesmo, não é nenhuma maravilha. A combinação de uma carga tributária alta, falta de mão-de-obra especializada, infraestrutura precária, câmbio desfavorável, burocracia estatal excessiva, juros absurdamente altos, além da concorrência chinesa, não perfazem um cenário fácil para nenhum empresário. Para culminar, o mundo viveu uma de suas piores crises econômicas a partir de 2008, com reflexos até hoje, o que causou forte recuo no comércio global de produtos industrializados. Mesmo com todos esses problemas, porém, os números indicam que a indústria nacional tem se modernizado e crescido. Não cresce a um ritmo chinês, mas não se pode exigir do setor industrial aumentos de produção a uma velocidade só possível na realidade do agronegócio ou do extrativismo. Uma coisa é comprar um pedaço de terra, plantar e colher a soja no ano seguinte. Ou cavar um buraco e extrair minério em questão de meses. A instalação de uma nova indústria requer às vezes mais de dez anos, como é o caso das gigantes refinarias que o Brasil vem construindo. Havendo uma enorme massa cujo poder aquisitivo vem crescendo rapidamente, abundância de crédito e perspectivas de estabilidade econômica no longo prazo, a consolidação da indústria nacional é só uma questão de tempo.

*

Por fim, encontrei uma outra tabela (abaixo, clique nela para ampliar), mais simplificada, mostrando o crescimento ou queda dos diversos setores da indústria nos últimos três anos. Note-se queda na indústria têxtil e de calçados, por causa provavelmente da concorrência chinesa. Trata-se de uma indústria extremamente importante, em tamanho e geração de emprego, e que deveria merecer alguma atenção do governo. Mas competir com a China é cruel. E desde que não podemos fechar nossas fronteiras para a China, pois isso significaria impor um protecionismo que não é o que defendemos na OMC, a única solução é investir pesado no aumento da produtividade das indústrias nacionais. Seja como for, a indústria têxtil hoje em dia não é mais vanguarda.

Repare que 2009 foi um ano ruim para todos os setores, em função da crise financeira internacional. Mas em 2010 assistimos uma forte recuperação. O segmento de máquinas e equipamentos cresceu 24% em 2010. O segmento de máquinas para escritório e equipamentos para informática, depois de cair em 2008 e 2009, apresentou crescimento de 13% em 2010 e 15% em janeiro de 2011. Não sei o que isso significa em termos de relevância em relação ao PIB, só sei que é bom. Crescer é bom de qualquer jeito. O segmento de "equipamentos médicos/hospitalares, ópticos e outros" cresceu 21% em 2010. Enfim, os setores mais avançados da indústria apresentaram uma recuperação vigorosa no ano passado. Até o momento, portanto, a tese da "desindustrialização" não está colando comigo. Quer dizer, sei que há setores sofrendo, particularmente aqueles ligados à exportação, por causa do câmbio hipervalorizado. Eu também, no período 2003 a 2008, enquanto o Brasil crescia extraordinariamente, passei por um processo de rápido empobrecimento. Isso acontece. Uns sobem outros descem. Para analisar a economia de um país, no entanto, é preciso considerar sobretudo o quadro inteiro. No geral, a indústria brasileira continua crescendo. Isso não significa que as coisas estão maravilhosas. Se formos procurar problemas, vamos encontrar, com certeza, e se formos averiguar a fundo veremos que setores sofreram por causa da incúria e negligência governamental e quais perderam por incompetência deles mesmos.


Postado no blog Óleo do Diabo em 20 de julho de 2011

O Brasil precisa do trem-bala, Cuiabá precisa do metrô de superfície (31jul2011)

Já defendi neste blog a escolha do metrô de superfície para Cuiabá, como obra ligada à Copa 2014. Trata-se, a meu ver, de uma solução mais definitiva, econômica e confortável para a população cuiabana, com possibilidades de ampliações futuras, criação de novas linhas. Isso desafogaria o pesado fluxo de veículos nas artérias viárias, já hoje saturadas.


Há quem ache que Cuiabá não merece tal investimento, pensando em economizar com a implantação do sistema de corredores de ônibus. Todos sabemos com que velocidade os ônibus se degradam, o que levará esses "corredores" a se transformarem, muito cedo, em "congestionadores". Isso sem contar as grandes áreas que terão que ser desapropriadas para sua construção. Ficaremos com um elefante branco, de rápida obsolescência.


Ao invés de se aproveitar o momento de investir pesadamente num futuro de qualidade em termos de transportes públicos, criado pelo evento mundial que terá Cuiabá como subssede, vem o complexo de vira-lata, do pensamento pequeno, de curto prazo a vociferar contra os gastos públicos. É hora, sim, de investir muito e de investir bem, gerando condições mais adequadas para essa cidade atrair cada vez mais investimentos e novos moradores. A infraestrutura é fundamental para qualquer avaliação de investimento em uma dada região, e Cuiabá poderá oferecer um meio de transporte coletivo digno de um futuro de crescimento com qualidade de vida para a população dependente de transporte coletivo, bem como poderá oferecer uma alternativa viável e confortável a quem deseje deixar seu carro em casa e utilizar o metrô, ou mesmo diminuindo a necessidade que muitas pessoas têm de adquirir automóvel, necessidade essa criada pela má qualidade dos ônibus e pela péssima distribuição de linhas pela cidade.


Cuiabá é uma cidade terrivelmente quente. Seu calor já ganhou até menção na MPB - "Te ver e não te querer (...) é como não sentir calor em Cuiabá (...)" - e transforma as saídas de casa em uma atividade desconfortável, suarenta e cansativa. Uma boa rede de linhas de metrô de superfície, além de ser menos poluente do que os ônibus, oferecerá atrativas condições de horários, tempos de deslocamento e de espera, condicionamento térmico etc.


Se deixada para o futuro, será cada vez mais caro e difícil de se construir um metrô na nossa capital, pois é visivel o acelerado adensamento urbano que vem ocorrendo desde o final de década de 1970. Desde então, Cuiabá não tem tido crescimento vegetativo, aritmético, mas sim um crescimento geométrico, fruto do avanço das fronteiras agrícolas pelo Estado de Mato Grosso. Não dá mais para se pensar pequeno em relação a uma cidade que vive há décadas uma explosão de crescimento, apesar de seu clima que assusta a muitos visitantes.

Insisto: O POVO CUIABANO MERECE UM METRÔ DE SUPERFÍCIE


A seguir, apresento uma postagem de Miguel do Rosário, em seu blog Óleo do Diabo, que tem argumentos interessantes para defender a construção do trem de alta velocidade no Brasil. Muitos de seus argumentos me fizeram lembrar minha defesa do metrô de superfície aqui em Cuiabá.

Discutindo o trem-bala


Como vocês já devem ter percebido, o trem-bala se tornou a nova jabulani na guerra ideológica entre direita e esquerda. A direita, como era de se esperar, não quer o trem-bala. Diz que não há dinheiro, que não é viável, que o projeto orçava antes em 23 bilhões e agora está em mais de 30 bilhões. Que é um delírio faraônico lulodilimista. Pensando bem, não é uma guerra. É mais um cerco, com o governo isolado na fortaleza. A militância de esquerda assiste a tudo em cima do muro, meio perplexa. A ultra-esquerda, naturalmente, aliou-se à direita: ambos vociferam contra o projeto do governo de criar o primeiro trajeto de trem de alta velocidade no país. Outro dia um militonto me disse que era um projeto para fazer trem para os "ricos"...

O Elio Gaspari, por exemplo, encampou uma campanha bastante agressiva contra o trem-bala.

O interessante é que ninguém, nem a grande mídia, nem o Gaspari, nem os militontos, parecem preocupados em pesquisar mais a fundo antes de se posicionarem. Ter uma opinião sobre o trem-bala, assim como em relação a muitos assuntos, semelha a um gosto estético: acham bonito ou feio. O que, a meu ver, só piora a visão que eu tenho dessas pessoas, porque se dependesse apenas de uma questão estética, eu acho que é uma evidência gritante que se trata de um projeto interessante. Que país não gostaria de ver suas duas maiores metrópoles ligadas por trens de alta velocidade?

Resolvi pesquisar o tema. Comecei pelo google, e digitei simplesmente "train", ou trem, em inglês, e acabei na página da wikipédia sobre trens de alta velocidade. Em primeiro lugar, estudei o que já existe no mundo, e confirmei algumas coisas que já sabia e descobri outras:
A Europa é inteiramente cortada por trens de alta velocidade.
As grandes metrópoles asiáticas, sobretudo na China e Japão, já possuem trens de alta velocidade; estão construindo mais e mais.
Os Estados Unidos, que cometeram o terrível erro de deixarem de lado o transporte ferroviário nas últimas décadas, tem um projeto de investirem em grandes corredores transnacionais de trens de alta velocidade. É um projeto muito caro ao governo Obama.

Dêem uma olhada no projeto de Obama para os corredores de trens de alta velocidade nos EUA:


Aí fui estudar o projeto do trem-bala brasileiro, tão cruelmente bombardeado pela maioria da imprensa. Aliás, porque será que não estou surpreso com isso? Neste post, reproduzo algumas tabelas que peguei no relatório que a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) preparou. Vamos olhar o item preço, para responder aos que acusaram o trem-bala de ser um luxo para ricos.

O trem-bala terá dois preços: classe executiva e classe econômica. O preço de uma viagem de Rio a São Paulo na classe econômica, em horário de pico, custará R$ 200, e fora do pico, R$ 150. Uma passagem aérea, em horário de pico e fora de pico, custa em média R$ 400 e R$ 180. O tempo total de uma viagem de trem-bala do Rio a São Paulo, incluindo o tempo de embarque, é de 1 hora e 42 minutos. De avião, o tempo total é de 1 hora e 50 minutos. O trem-bala, portanto, chega para popularizar e democratizar o transporte público nas duas áreas metropolitanas mais povoadas do país.


Tenho notado que a preocupação dos críticos, à esquerda ou direita, tem focado nos custos do trem-bala. Bem, para isso, temos de analisar as receitas. Segundo o estudo da ANTT, a receita do trem-bala deverá vir num crescente de 2014 a 2044. Neste último ano, a estimativa é de uma receita anual de R$ 8 bilhões (tabela 8-10).


O custo estimado para a construção do trem-bala está em torno de R$ 30 bilhões. Mas eu prefiro fazer uma estimativa bem conservadora e apostar que o custo final poderá chegar perto de R$ 50 bilhões.

Considerando as receitas estimadas, o trem-bala deverá ser pago em cerca de 30 anos. Isso é muito para um empreendimento que pode durar até séculos ou mesmo milhares de anos? Não tem gente que ganha salário mínimo comprando casa com prazo de 30 até 40 anos? Por que não podemos fazer um trem-bala que poderá transportar dezenas de milhões de pessoas? Em 2044, estima-se que o TAV movimentará 99 milhões de passageiros/ano!

Em outros termos, trata-se de um projeto autossustentável. E olha que esses cálculos não embutem o mais importante: a contribuição que dará ao aumento da produtividade no eixo Rio-São Paulo, a economia de tempo e dinheiro das pessoas, a redução no uso de combustíveis poluentes. Sem falar na colossal geração de empregos acarretada no processo de construção, e depois na manutenção e operacionalidade. Mesmo que o projeto fosse totalmente inviável economicamente, eu acho que valeria a apenas pela transferência de tecnologia num dos segmentos mais estratégicos para um país: o transporte público de massa.

Deve-se considerar, ainda, os ganhos proporcionados à indústria do turismo e o estímulo ao comércio entre Rio e São Paulo. O custo do frete vai cair muito.

Em relação à oposição da ultra-esquerda ao trem-bala, prefiro abster-me de comentários para não ser indelicado. Poderia lembrar que a China comunista está fazendo trem-balas a torto e a direito, com planos de conectar todo o grande estado chinês com ferrovias de alta velocidade; mas não digo porque acho que não gostam da China; pelo que sei, não gostam de nada. Japão e Coréia do Sul também possuem trens-balas ligando suas principais cidades.

Em relação à direita, trata-se mais uma vez do complexo de vira-lata, que faz nossa direita beber uma sopa esquizofrênica de ideias anticapitalistas e a-históricas. Têm um preconceito doentio contra qualquer investimento do Estado na economia, ignorando que os países ricos apenas alcançaram o estágio onde se encontram agora porque seus governos não hesitaram em investir em infra-estrutura, incluindo aí trens. E parecem cegos para as oportunidades de desenvolvimento econômico e, portanto, de lucro para eles mesmos. Tornaram-se uma raça de sadomasoquistas que se rejubilam na miséria e no subdesenvolvimento.

Ao longo de sua história, os Estados Unidos, através do governo, investiram em trens, rodovias, portos e aeroportos. Nas últimas décadas, porém, deixaram as ferrovias de lado, em função do pesado lobby da indústria do petróleo. Um erro terrível pelo qual pagam muito caro hoje. Como já disse, um dos projetos de Obama, já em andamento, é justamente voltar a investir em ferrovias, desta vez em trens de alta velocidade, com o objetivo de libertar o país de energias fósseis importadas e promover o desenvolvimento.

Concluindo: no atual estágio do desenvolvimento do transporte público no mundo, possuir um trem de alta velocidade conectando Rio e São Paulo, as duas maiores cidades do país, é um imperativo histórico!

PS: Um leitor amigo, Sergio Grigoletto, lembrou-me de acrescentar dados sobre o fluxo de passageiros no transporte aéreo. Abaixo, pode-se ver como o TAV (trem de alta velocidade) irá desafogar a ponte aérea e rodoviária, hoje sobrecarregada, entre Rio e São Paulo. Repare que a estimativa da ANTT é que o TAV se transforme, já em 2014, no principal elo de ligação entre as duas metrópoles, absorvendo 53% da demanda de passageiros. Eu acrescentaria que, para além de 2014, a tendência é de aumento do fluxo de pessoas, em virtude do aumento populacional e do crescimento econômico, de maneira que o transporte aéreo entre as duas cidades atingirá em breve - sem o TAV - uma situação de total congestionamento.


Mapa dos trens na Europa:



Escrito por Miguel do Rosário, postado no blog Óleo do Diabo em 20 de julho de 2011.

O cinismo cultural brasileiro (31jul2011)

Por Eduardo Guimarães

Não há nada pior para uma democracia do que o cinismo. Aquele cinismo coletivo com o qual as pessoas fingem que não sabem de alguma coisa apesar de todos estarem carecas de saber. Bom exemplo desse comportamento reside na teoria da “democracia racial” brasileira, segundo a qual os brancos ricos do Sul-Sudeste do país proclamam: “Não somos racistas”. Um comportamento que, aliás, é responsável pela perpetuação da inferioridade étnica no Brasil.

Até há menos de uma década, tal idéia era praticamente incontestável. Apesar de todos saberem que as prisões estão abarrotadas de negros e mestiços em maioria totalmente incompatível com a proporcionalidade estatístico-étnica deste povo, apesar de o perfil majoritário do brasileiro que sofre morte violenta ser o do jovem pobre descendente de negros, apesar de todos saberem que afro-descendentes ganham menos e são reiteradamente preteridos no mercado de trabalho, apesar de a propaganda e até a teledramaturgia brasileiras lembrarem, do ponto de vista de modelos e atores, as de países nórdicos, ao menos na mídia a teoria do racismo cordial brasileiro sempre predominou.

Quer ver hipocrisia? Quantos entre aqueles que professam os mesmos dogmas ideológicos que o extremista de direita que acaba de praticar genocídio na Noruega e que acalenta repulsa à miscigenação ou a direitos para homossexuais não estão se fazendo de “perplexos”? E quantos sabem que as idéias daquela besta-fera são repetidas à exaustão neste país pelos “homens de bem” brancos e ricos do Sul-Sudeste, sobretudo?

Você não verá essa constatação óbvia e necessária ganhar força. Não se discutirá que idéias degeneradas como a do genocida norueguês são ditas abertamente por determinadas classes sociais abastadas e de regiões específicas, discurso que estimula verdadeira perseguição, no Sul e no Sudeste, a descendentes de negros, a nordestinos e a homossexuais.

O cinismo cultural brasileiro não oferece quartel, não se abala, não ruboriza. Pelo contrário: exibe-se todo garboso, sorridente e perfumado. Afeta uma fleuma britânica, olhando, horrorizado, para quem ousa apontar fatos escandalosamente evidentes.

Em política, por exemplo. Jornais que todos os dias vêm recheados de denúncias, críticas, ironias e insultos sempre contra o mesmo grupo político específico, o da aliança que governa o país, e que, depois que o PT chegou ao poder, nunca mais acusaram a oposição de adepta do “quanto pior, melhor”, dizem-se “isentos”. Mesmo adotando postura cem por cento chapa-branca em relação a governos estaduais de partidos adversários daqueles que governam o país.

Enquanto órgão do governo federal como o DNIT se vê sob bombardeio midiático de denúncias de corrupção, em São Paulo a Dersa tem o mesmo tipo de problema de denúncias de superfaturamento de obras bilionárias que chegam a quase dobrar de valor em relação ao orçamento inicial. A mídia que cobra o DNIT, claro, não noticia quase nada. E quando noticia, é rápido. A notícia some logo em seguida. E, detalhe: nunca vem editorializada, ou seja, são sempre matérias frias, sem opinião. Como devem ser, aliás. Contanto que sejam para todos.

Esses profissionais do jornalismo e da comunicação que conduzem esse desastre ético-jornalístico, aliás, abusam do cinismo ao se dizerem todos muito “isentos”. Ontem mesmo li um editorial de O Globo dizendo que “a imprensa” não seria partidária, seria “técnica e profissional”, apesar de a omissão desse e de outros veículos congêneres em relação a denúncias contra o PSDB ser facilmente verificável, bastando rápido exame de período mais largo das edições desses veículos, para tanto.

Nem todo aquele que se diz isento é canalha, mas todo canalha se diz “isento”. Esse é um truísmo incontestável. Porque aquele que deseja seduzir a outros com seus dogmas e preferências político-ideológicos através do engano, do logro, não pode prescindir de se apresentar como alguém desinteressado pessoalmente no jogo político e, portanto, “confiável”.

Sendo honesto, não se pode ignorar que o comportamento cínico da mídia ou da classe política espelha o comportamento da sociedade. Todos convivem com situações em que negros são prejudicados profissionalmente, todos sabem que ganham menos, que praticamente não existem em determinados clubes, escolas, bairros, profissões e cargos ou que as novelas brasileiras chegam a ter 70, 80 por cento de atores brancos de aparência européia. E todos convivem pacificamente com isso em um país majoritariamente miscigenado. Inclusive os prejudicados.

O próprio descendente de negros, ciente da inferioridade social de sua etnia, declara-se “branco” aos censos do IBGE, por exemplo. É forma de não ser descartado numa entrevista de emprego ou na admissão em um clube sem ao menos ter a chance de passar da pré-seleção.

Algumas pessoas que se declaram “brancas” têm características físicas altamente eloqüentes de sua predominância étnica discrepante, mas têm que apelar ao cinismo cultural brasileiro em busca de fugir da discriminação. A negação da própria natureza é dolorosa, a situação que leva a alguém a negar o que é, dói na alma. Mas o fato é que essa conduta defensiva não deixa de ser cínica, ainda que adotada sob motivação mais do que compreensível.

O cinismo cultural não é característica de uma só ideologia, de um só estrato social, de uma só etnia ou de uma só região. Pode até ser mais forte – ou mais escandaloso – em alguns estratos sociais e regiões, mas é impossível negar que é traço da identidade nacional. Fingir que não vê o que é facilmente visível é comportamento amplamente aceito. Inclusive por razões compreensíveis como a de nos permitir nadar no oceano de hipocrisia que banha este país.

Publicado em 26 de julho de 2011 no Blog Cidadania.

A mídia e a morte por greve de fome: estardalhaço contra Cuba e aquiescência com a Espanha (31jul2011)

Morre na Espanha preso em greve de fome... mas não era cubano

Cubainformación

Neste 25 de julho de 2011 faleceu em Teruel (Espanha) um preso que ficou cinco meses em greve de fome, quatro deles com alimentação forçada (1). O falecido, Tohuami Hamdaoui, era um imigrante marroquino de 41 anos que denunciava ser vítima de um erro judicial após ser condenado a 16 anos por agressão sexual. A notícia foi apenas refletida pela grande mídia espanhola, enquanto para as cadeias internacionais, sequer havia existido.

Um tratamento que contrasta radicalmente com o que as mídias espanholas deram ao falecimento, após uma greve de fome, do preso cubano Orlando Zapata, em fevereiro de 2010 (2). Sua morte ocupou, durante semanas, lugar destacado no noticiário de televisão e rádio, e encheu páginas inteiras dos grandes diários. Provocou declarações ameaçadoras contra o governo cubano por parte do presidente José Luis Rodríguez Zapatero (3), a condenação do Parlamento europeu (4), novas iniciativas de sanções econômicas contra Cuba, e inclusive o protesto de intelectuais e artistas espanhóis (5).

Recordemos que Orlanda Zapata Tamayo era um preso comum que cumpria pena em Cuba -entre outros delitos - por agressão com machete a um cidadão, e que uma vez no cárcere foi convertido em "preso de consciência" pela chamada "dissidência" cubana aliada do governo dos EEUU (6). Apenas um ano e meio depois de sua morte, toda a sua família foi acolhida em Miami, e apoiada economicamente pelas instituições dos EEUU (7). Um privilégio com o que não contará a família do preso marroquino falecido na Espanha.

No caso Zapata, a grande mídia espanhola culpara desde o primeiro instante o governo cubano, todo seu espaço de opinião foi cedido à "dissidência" cubana e aos políticos das grandes potências, e as informações procedentes da imprensa cubana foram rechaçadas por serem "versões oficiais" (8). No caso da morte de Tohuam Hamdaoui, a mídia tem seguido justamente o padrão oposto: tem reservado um pequeno espaço informativo para respaldar as versões "oficiais" das instituições espanholas, e sequer um mínimo de espaço para possíveis vozes críticas.

Por exemplo, a agência EFE citava que "fontes penitenciárias (...) têm explicado que se tem feito todo o possível para salvar a vida do recluso" (9). Europa Press entrevistou o Defensor do Povo de Aragón, que afirmara que não fora cometida "nenhuma falta na proteção dos direitos (do preso)".

Os diários do grupo Vocento jogaram contra o falecido, já que "desprezou todas as petições de Instituições Penitenciárias porque mudará de atitude" (10).

As mídias que refletiram desta maneira tão oficial como sucinta a morte do citado cidadão marroquino ressaltam que trata-se do primeiro preso comum que morre na Espanha por uma greve de fome. Uma informação não de todo correta, já que em 2002 faleceu na Catalunha outro preso após protesto similar (11). Além disso, categorizar o falecido como "preso comum" tem servido a esses meios para evitar a menção de antecedentes muito mais incômodos para o regime espanhol por seu caráter político, como as mortes, após uma rotina de greves de fome em 1981 e 1990, de dois militantes do grupo armado Grapo (12).

As mídias espanholas têm reduzido à categoria de fato local o falecimento por greve de fome deste preso imigrante, que não contava com nenhum apoio midiático ou político. Sequer tem suscitado o interesse das mídias espanholas os cerca de 500 presos da Califórnia (EEUU) que têm continuado nas últimas semanas uma greve de fome em demanda de condições dignas de internação.

Enquanto isso, cada uma das greves de fome de "dissidentes" cubanos, como Gillermo Fariñas, é coberta sem economia de detalhes, por estas mesmas mídias espanholas (14). É que, como nos demonstram diariamente, nem todas as greves de fome são iguais. E nem todas as mortes.

(1) http://www.telecinco.es/informativos/sociedad/noticia/1795273/Muere+un+preso+en+Teruel+que+estaba+en+huelga+de+hambre+desde+hace+5+meses

(2) http://www.elpais.com/articulo/internacional/Muere/preso/politico/cubano/pasar/85/dias/huelga/hambre/elpepuint/20100224elpepuint_1/Tes

(3) http://www.elmundo.es/elmundo/2010/02/25/espana/1267089721.html

(4) http://el-nacional.com/www/site/p_contenido.php?q=nodo/127335/Internacional/Parlamento-Europeo-condena-la-muerte-del-disidente-cubano-Orlando-Zapata

(5) http://www.cubainformacion.tv/index.php?option=com_content&view=article&id=14545:especial-desmontando-el-guion-mediatico-de-las-damas-de-blanco&catid=61&Itemid=65

(6) http://www.cubadebate.cu/opinion/2010/02/26/orlando-zapata-tamayo-la-muerte-util-de-la-contrarrevolucion/

(7) http://angelicamorabeals2.blogspot.com/2011/06/reyna-luisa-reina-en-su-nuevo-hogar.html

(8) http://www.ddcuba.com/cuba/3335-el-regimen-acusa-la-familia-de-zapata-de-haber-estimulado-su-suicidio-por-dinero

(9) http://www.elmundo.es/elmundo/2011/07/25/espana/1311591172.html

(10) http://www.elcorreo.com/alava/v/20110726/pvasco-espana/muere-primer-preso-comun-20110726.html

(11) http://www.elpais.com/articulo/espana/BARCELONA/Muere/preso/prision/Barcelona/huelga/hambre/elpepinac/20020608elpepinac_29/Tes

(12) http://www.elmundo.es/elmundo/2007/01/25/espana/1169749223.html

Texto original postado em Rebelión, e em português em Nebulosa de Órion, ambos datados de 29 de julho de 2011.

Assassinatos de cientistas nucleares iranianos (31jul2011)

Morte e contradição - O caso dos cientistas nucleares do Irã

Por Lawrence Davidson
Information Clearing House

Traduzido do inglês para Rebelión por Germán Leyens

Morte

Em 23 de julho de 2011 anunciaram que Dariush Rezai-Nejad foi assassinado a tiros em Teerã por dois homens em motocicletas.

Os assassinos perseguiram e dispararam contra sua mulher. Segundo a Al Jazeera, Rezai-Nejad trabalhava como investigador no campo da eletrônica e tinha conexões com o programa nuclear do Irã. Não é o primeiro ataque semelhante. Em novembro de 2010 houve ataques com bombas contra os automóveis de dois outros cientistas iranianos que tinham claros vínculos com o programa nuclear do país. Um deles, Majid Shahriari, morreu no ato e o outro, Fereydoun Abbasi, acabou ferido junto à esposa.

Há muita especulação a respeito de quem foi o responsável por estes ataques. Uma teoria favorita no ocidente é que o governo iraniano está matando seus próprios cientistas porque ameaçam desertar. O único cientista iraniano identificado publicamente que pode ou não haver desertado é Shahram Amiri. Ele afirma que foi sequestrado por agentes saudistas enquanto estava em peregrinação em Meca em junho de 2009 e foi levado à força para os EEUU. Depois voltou ao Irã. A noção de que o governo iraniano esteja agora assassinando alguns de seus próprios cientistas para assegurar a lealdade dos outros parece um disparate. Há formas menos drásticas de conseguir esse objetivo. Quase toda fonte independente de análise sobre este tema está de acordo em qe os verdadeiros perpetradores destes assassinatos em série e intenções de homicídio são os EEUU e Israel, talvez com a ajuda do Reino Unido. Estas fontes incluem o próprio correspondente militar senior de Israel, Yossi Melman, que disse ao jornal britânico The Independent que existem "intermináveis esforços do establishment da inteligência israelense com seus homólogos ocidentais, o MI6 britânico e a CIA, de sabotar, atrasar e se for possível impedir que o Irã chegue a ter... sua primeira bomba nuclear". Este esforço inclui o assassinato de cientistas iranianos. Os mesmos informes têm aparecido no Le Figaro, na agência de notícias Xinhua da China e no Jerusalem Post.

Para a maioria dos ianques poderá soar impossível que Washington, que é descrita desde o berço até a morte como o dom de Deus para o bom governo, possa estar envolvido em assassinatos "oficiais". Sem dúvida, um vislumbre da história recente sugere que tal prática é na realidade a norma. Por exemplo, durante a guerra do Vietnã a CIA realizou o Programa Phoenix que conseguiu assassinar 23.369 supostos membros do Vietcong. O programa durou de 1962 até 1972 quando foi encerrado devido à publicidade negativa. Foi substituído quase que imediatamente por outra operação secreta, mas similar, com o nome código "F-6". Durante os anos cinquenta, sessenta e setenta a CIA realizou, ou ajudou a realizar, assassinatos de milhares de pessoas na América Central e Sul. Segundo informações, a Agência tentou assassinar Fidel Castro centenas de vezes. Sob o governo de Bush Jr., os sequestros, torturas e assassinatos foram procedimentos operacionais normais. E, finalmente, parece que uma forma grosseira de assassinato continua sendo a tática atual preferida na contínua "guerra contra o terror". Os EEUU utilizam agora drones que não só "eliminam" o objetivo mas também a qualquer outra pessoa que por casualidade se encontre nas cercanias no momento do ataque. Esta breve história deveria deixar claro que os repetidos informes sobre a participação dos EEUU nos ataques contra cientistas iranianos são bastante coerentes com a prática do passado. Geralmente, não se encontrará nenhum "escrúpulo moral" quando se tratar da utilização de assassinatos por Washington como elemento de política exterior.


Contradição

Agora chegamos à parte realmente surpreendente da história. Leitores deste blog recordarão minha análise, de 10 de junho de 2011, com o título de "Irã e o tema das armas nucleares". Apresentava evidência sólida de que o programa nuclear iraniano não aponta o desenvolvimento de armas nucleares. Recorda-se que foi e todavia ainda é a conclusão de não menos que 16 agências de inteligência dos EEUU (inclusive a CIA), como se assinalou em dois Esduos Nacionais de Inteligênca. Em outras palavras, uma parte do governo dos EEUU parece envolvida em um esforço para assassinar cientistas iranianos por seu suposto trabalho em um programa que outra parte do governo dos EEUU confirma que não existe. Podemos reduzir isto ainda mais. Parece que uma parte da CIA está envolvida nos ataques contra estes cientistas nucleares que outra parte da CIA nos diz que não tem cabimento. De que espécie de jogo esquizofrênico se trata?

1. A cumplicidade no programa de assassinatos constitui parte de uma política que parte de uma certa visão de mundo. Essa visão de mundo é anti-iraniana (tem sua origem na revolução iraniana de 1978-1979 e a captura dos reféns ianques), anti-mulçumana (supondo um "choque de civilizações") e pró-Israel (forjada pelo poder do lobby sionista). A decisão de continuar este modo de operar é política, assumida por homens e mulheres de posições chave na política exterior do Congresso e no ramo executivo do governo que compartilha ou pelo menos aprova essa visão de mundo. Além disso, todas estas personagens apoiam ou aprovam suposições sobre o Irã que são compatíveis com essa visão de mundo. Portanto, supõe-se que o Irã atual é agressivo, ambicioso e instintivamente hostil aos interesses ianques e israelenses. Portanto, não importa quão benigna seja na realidade a busca de energia nuclear por parte do Irã, ela é transformada em algo maligno pelas exigências da visão-de-mundo prevalecente e suas permanentes prensunções. Isto, por sua parte, justifica os ataques contra os que estão envolvidos na investigação da energia nuclear no Irã.

2. No entanto, os que realizam as análises profissionais de inteligência, como os realizados por Estudos Nacionais de Inteligência, não estão motivados por esta visão de mundo e não se baseiam em presunções. A capacidade de considerar os dados de inteligência com amplitude de ideias forma parte do que converte esta gente em profissionais. Portanto consideram a inteligência de maneira inteligente, determinam o que significa de maneira objetiva, e consequentemente informam. Obviamente, este tipo de procedimento produzirá uma avaliação mais honesta e exata do que a que está pré-determinada em grande parte por uma miríade de suposições.


Conclusão

Por desgraça, a honradez e a exatidão não são as prioridades de responsáveis políticos cooptados por visões de mundo motivadas ideologicamente e as suposições resultantes. Seja a Guerra Fria ou a Guerra contra o Terror, a realidade é definida pela ideologia. Os estudos de inteligência que apresentam um quadro diferente quase sempre se consideram politicamente inaceitáveis. Por isso, deixar clara a contradição entre uma política impulsionada por suposições tendenciosas e as que se baseiam em uma investigação objetiva é como assinalar tudo o que é errôneo na política ianque. Sem dúvida é uma mensagem que nossos responsáveis políticos não podem escutar. Essa visão de mundo também bloqueia os ouvidos.

Lawrence Davidson é professor de história na Universidade West Chester em West Chester PA. ldavidson@wcupa.edu www.tothepointanalyses.com


Vejam o texto original em Rebelión.

Publicado em português no blog Nebulosa de Órion em 29 de julho de 2011.

sábado, 30 de julho de 2011

A solidariedade cubana e o egoísmo norte-americano (30jul2011)

Esta noite 200 milhões de crianças dormirão nas ruas do mundo, nenhuma é cubana. A cada ano, 80 mil crianças morrem vítimas de doenças evitáveis, nenhuma delas é cubana. (Fidel Castro)

Enquanto a mídia conservadora mundial encobre e é conivente com os bárbaros crimes perpetrados pelo imperialismo, notadamente o norte-americano, Cuba age silenciosamente prestando solidariedade em dezenas de países pobres, em especial na América Latina.

São duas posições diametralmente opostas.

Quem não se lembra do terremoto que praticamente destruiu o Haiti, causando 250 mortes, inclusive brasileiros, destacando-se Dona Zilda Arns, e 1,5 milhão de desabrigados?

Enquanto os Estados Unidos mandavam dezenas de milhares de militares, Cuba mandava médicos e enfermeiros para atender os feridos, a maioria em estado grave.

As tropas ianques ocuparam o aeroporto da capital Porto Príncipe, proibindo a aterrizagem de aviões de países que levavam ajuda humanitária mas que não contavam com a simpatia do governo Pentágono.

Uma brigada de 1.200 médicos está atuando em todo o território haitiano, atendendo as vítimas do terremoto e infectados com cólera, como parte da missão médica internacional de Fidel Castro.

Enquanto os médicos cubanos cuidavam dos feridos e confortavam suas famílias, os militares ianques reprimiam violentamente a população mais pobre.

O mundo deveria se envergonhar dessa situação.

Atualmente, mais de 8.200 estudantes pobres de mais de 30 países estudam medicina em Cuba. Além da gratuidade, esses alunos ainda recebem uma bolsa do governo cubano.

Do Brasil são 684 estudantes pobres que estudam na Escola Latino-americana de Medicina (ELAM). Do Ceará são 33, e 70 já terminaram o seu curso e atuam principalmente no interior do Estado, muitos deles em assentamentos do MST.

Com o apoio do governo do Estado do Ceará, através da Secretaria Estadual de Saúde, os cearenses que estudam na ELAM e que vem passar as férias de meio do ano aqui, realizam jornadas na periferia de Fortaleza e no interior do estado, mais precisamente nas localidades mais carentes.

Este ano, a jornada será realizada no município de Sobral no período de 1º a seis de agosto, contando com o apoio do prefeito Clodoveu (Veveu) Arruda e da Associação de Amizade Brasil-Cuba do Ceará. Esse trabalho é coordenado por Thiago Ponciano, cearense que preside a Associação dos Estudantes Brasileiros em Cuba.

Neste mês de julho, o sistema de saúde da Nicarágua será fortalecido com a chegada de 315 estudantes egressos da ELAM. Eles acabam de concluir o quinto ano do Curso de Medicina e tão logo cheguem a seu país se incorporarão ao sistema nacional de saúde como internos enquanto cursam o sexto e último ano com professores da brigada médica cubana Che Guevara, que presta serviços há vários anos nessa nação centro-americana.

Segundo informou o doutor Alfredo Rodriguez, chefe da brigada médica cubana, depois de graduar-se como médicos, eles continuarão mais dois anos como residentes em especialidade de Medicina Geral Integral. Ao todo são 425 os estudantes nicaragüenses que concluíram Medicina este ano na ELAM, porém só esses 315 continuarão seus estudos na Nicarágua, enquanto os outros 137 restantes o farão em Cuba. No total são 880 os jovens nicaragüenses a se formarem em Medicina e Cuba e outros 15 em carreiras tecnológicas.

É importante observar que nos Estados Unidos mais de 55 milhões de pessoas não têm acesso a nenhuma assistência básica de saúde.

O então presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a aconselhar o presidente Barack Obama a criar um sistema nos moldes do SUS visando à universalização da saúde naquele país.

A colonizada direita brasileira e certos setores ditos de “esquerda” deveriam atentar para o fato de que, enquanto Cuba – apesar do criminoso boicote econômico, financeiro e comercial imposto pelo império do Norte – ajuda países pobres, na maioria latino-americanos, o governo estadunidense proíbe até que laboratórios vendam remédios para tratar crianças cubanas com câncer.

Num flagrante desrespeito aos mais elementares direitos humanos e à autodeterminação dos povos, contrariando orientações das Nações Unidas, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, informou na última sexta-feira 15, ao Congresso do seu país, que prorrogou por mais seis meses a suspensão de uma cláusula da Lei Helms-Burton que permite entrar com um processo contra empresas estrangeiras que negociem com Cuba.

Essa ação unilateral do governo ianque representa a continuidade do cruel e criminoso bloqueio contra a Ilha, que já dura mais de meio século.

O que a velha mídia conservadora, venal e golpista brasileira, vergonhosamente esconde, é que em Cuba a saúde é universalizada e o analfabetismo é zero, e que, com ajuda de professores cubanos a Venezuela e a pobre Bolívia erradicaram o analfabetismo.

A informação é da UNESCO.

O método de alfabetização cubana é o que há de mais avançado no mundo. Professores cubanos atuam em dezenas de países, incluindo o Brasil, sendo dezenas deles no Ceará.

Enquanto Cuba ajuda na educação, o imperialismo, notadamente o norte-americano bombardeia há anos escolas e hospitais no Iraque, no Afeganistão e no Paquistão, e agora na Líbia.

Por tudo isto e muito mais é que Cuba é exemplo de solidariedade para o mundo.

Publicado em 23 de julho de 2011 no blog Pernambucano falando com e para o mundo.

Viva a disfuncionalidade do Brasil! (30jul2011)

O assassino em massa norueguês Anders Behring Breivik cita o Brasil, no manifesto racista que divulgou na internet, como um exemplo do que a “mistura de raças” produz em uma nação

Segundo sua mente transtornada pelo ódio, seríamos assim “por causa da “revolução marxista brasileira”, o Brasil teria se tornado uma mistura de raças o que se mostrou uma “catástrofe” para o país que é “de segundo mundo” com um baixo nível de coesão social. Os resultados seriam os altos níveis de corrupção, baixa produtividade e conflitos entre as diferentes culturas”.

Breivik é um doente, mas a forma que sua doença assume é moldada por um caldo de cultura que existe aqui também, embora nem todos os que pensam como ele vão sair fuzilando dezenas de jovens. Mas ele existe e tem muita gente que está mergulhada nele e, mesmo sem verbalizar ou escrever isso, acha que o Brasil negro, mestiço, cafuzo, mulato, é a praga e o atraso deste país.

Cheios de dedos, para não explicitar seu racismo social, o que eram os que reclamavam daquela “gente diferenciada” que uma estação do Metrô traria a Higienópolis?

Mas deles a gente está cansado de falar.

Nós também temos culpa nisso.

Porque paramos de celebrar, por nos agarrarmos – usando a expressão do próprio terrorista, em seu manifesto – à idéia de tribo, de grupo fechado por alguma razão: etnia, gênero, ideologia, a riqueza da diversidade.

A maior perversidade da discriminação é essa: a de nos cegar para vermos a riqueza de nossa igualdade humana.

Estamos, com razão e por dever, tão presos a afirmar os direitos de grupos – e todos eles os têm e são invioláveis – que descuidamos de proclamar a maravilha de nossa grande – por que não assumir a palavra – disfuncionalidade.

Porque o ser humano não é uma função. Não é uma peça, um produto, algo feito em série, para cumprir um papel.

O milagre do povo brasileiro não é apenas respeitar a diversidade, mas ter forjado nela uma unidade nessa tão rica e una diferença.

Disfuncional, para aquele lunático terrorista.

Desprezível, para nossas elites, que nos consideram, por isso, inferiores, embora não tenham mais coragem de afirma-lo com todas as letras, o que não os impede de colocar cercas eletrificadas, insulfilme e, sobretudo, de aderir e aplaudir a ideia de que este país seja de todo o seu povo.

Que falta nos faz um Darcy Ribeiro agora – e como nossa intelectualidade se empobreceu por não os produzir às centenas – que proclame nossa miscigenação como virtude e avanço, e não esqueça dela porque tenha medo de dizer que ela é boa, porque soma todos os que somos iguais: negros, brancos, amarelos, índios e até nossos noruegueses.

Como debocharam da ideia generosa do “socialismo moreno” que ele, Darcy, e Leonel Brizola, apregoaram diante de seus narizes torcidos, tentando dizer que, numa sociedade justa, aberta e igualitária, todos nós em algumas gerações, seríamos da mesma cor, feita de todas as cores.

Como zombaram da ideia de uma “civilização dos trópicos”, por acharem boa, mesmo, aquelas frias e funcionais, que produzem desvios assim. E não é de hoje, vide as barbaridades coloniais, depois o nazismo e estes seus filhos tardios.

Não temos de ser funcionais, o que nada tem a ver com não sermos racionais.

Um país, como ser humano, vive em busca da felicidade.

E felicidade é um estado de alegria coletiva, de aceitação, do que o Frei Leonardo Boff dizia ser a festa, onde as pessoas dizem sim a todas as coisas.

É, porque a gente precisa entender e sentir que o não só tem sentido, quando se nega o sim para alguém. Nós não temos ódio, mas não descuidamos de lutar pelo direito – e o dever – de amar.

É isso: só o que temos contra nossas elites é não aceitar que o povão seja gente. É não entender o verso do Tom que diz que é impossível ser feliz sozinho.

O Rolex e a futilidade a gente aceita e tolera.

E ainda pergunta que horas são.

Publicado em 25 de julho de 2011, por Fernando Brito, no blog do Brizola Neto (Tijolaço).

Agosto será o mês da mobilização dos docentes das universidades federais (30jul2011)

Docentes iniciam agosto com mobilização em todo o país

Os professores das Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes) iniciam o mês de agosto com mobilização em todo o país. Entre os dias 1 e 15 de agosto, as seções sindicais do ANDES-SN devem organizar rodadas de assembléias gerais, conforme o calendário aprovado no 56º Conad realizado entre 14 e 17 de julho, em Maringá (PR).

A recomendação é priorizar a realização das assembleias até 5/8. Isso porque, nos dias 6 e 7 de agosto, os representantes do setor das Ifes ser reúnem na sede do ANDES-SN em Brasília, para avaliar o movimento e as negociações com o governo. A partir deste balanço, as seções sindicais devem planejar ações, ampliando a mobilização da base com relação à Campanha 2011, e indicar para a categoria a necessidade de greve.

Para a segunda quinzena de agosto, está prevista a realização de atos nos estados e em Brasília, com amplos setores sociais e sindicais, com indicativo de paralisação nos dias 23 e 24, para exigir negociações efetivas com o governo federal e atendimento da pauta de reivindicações.

Reunião com o governo

Na próxima terça-feira, 2/8, o ANDES-SN se reúne com representantes do governo no Ministério do Planejamento (MP) para discutir a pauta de reivindicações específica dos docentes das Ifes. O foco da reunião deverá ser a contraproposta emergencial encaminhada pelo Sindicato Nacional para o MP e para o Ministério da Educação (MEC/Sesu).

Como forma de pressionar o governo, as seções sindicais foram convidadas a enviar representantes para uma vigília em frente ao prédio do MP, durante a reunião.

Fonte: ANDES-SN

Quase 70% dos desvios de verba ocorrem na educação e na saúde (30jul2011)

Corrupção seria facilitada pelos repasses serem de valores baixos

Por Mathias Rodrigues
Sedufsm - Seção Sindical

Segundo dados divulgados pelo diretor do Departamento de Patrimônio e Probidade da Advocacia Geral da União (AGU), André Luiz de Almeida Mendonça, entre 60 e 70% dos desvios de dinheiro público no Brasil ocorrem nas áreas da Educação e Saúde, além de saneamento básico. Para Mendonça, tal percentual é justificado pela maior facilidade de corrupção nestes setores, que trabalham com altos volumes de recursos, mas sempre com repasses de valores baixos, o que dificulta a fiscalização pelos órgãos de controle como AGU e Controladoria Geral da União (CGU).

Legalmente, os crimes nessas duas áreas são considerados hediondos. Na Saúde, a falta de verba, por conta dos devios, resulta em um mau atendimento pelo sistema público, com menos equipamentos e medicamentos e ainda profissionais mal pagos e com menos capacitação. Esse conjunto de fatores literalmente condena à morte milhares de cidadãos por ano.

Pelo lado da Educação, além da má formação dos alunos, os desvios até em recursos destinados à merenda escolar também contribuem para afetar a saúde dos estudantes, que muitas vezes tem nessa alimentação sua principal fonte de nutrientes. Nesta área, os conselhos tutelares são fundamentais para fiscalização e denúncia ao Ministério Público de eventuais crimes. Hoje, no Brasil, apenas 1,6% dos municípios não possui conselhos, segundo levantamento do IBGE em 2009.

Além dos desvios de verbas, as duas áreas também recebem poucos recursos se comparadas ao destinação dada pelo governo a outros investimentos. Atualmente são investidos em torno de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) em educação e 4% em saúde, enquanto mais de 46% são destinados ao pagamento de juros e amortizações da dívida pública. Segundo Marina Barbosa Pinto, presidente do ANDES-SN, há de se inverter as prioridades na hora de se investir em educação. “O ANDES-SN propõe que se assuma a educação pública como uma prioridade. Significa que, havendo o aumento de arrecadação do país, é necessário investir mais em educação, e portanto alterar o percentual do PIB destinado à educação”, observou Marina.

Com informações de Sindilegis e O Globo
Edição: Renata Maffezoli / ANDES-SN

Fonte: Sedufsm - Seção Sindical do ANDES-SN

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Sindicato dos professores federais apresenta contraproposta ao governo (27jul2011)

ANDES-SN apresenta contraproposta de acordo emergencial ao governo federal

Objetivo é fazer avançar as negociações e garantir que algumas reivindicações sejam contempladas desde já

Por Renata Maffezoli

Dada a urgência em definir pontos de possível consenso para fazer avançar as negociações com o governo, o 56° Conad aprovou apresentar formalmente uma contraproposta de acordo emergencial, extensiva a todos os docentes federais.

Na última reunião com o Ministério do Planejamento (MP) para discutir a pauta específica dos docentes das Instituições Federais de Ensino, em 11/7, ficou clara a necessidade de antecipar alguns elementos da pauta de reivindicações, a fim de garantir avanços imediatos.

“Vamos avaliar o espaço de consenso possível, porque temos um curto espaço de tempo, já que o projeto de lei do Orçamento 2012 tem que ser fechado até 31 de agosto e o debate sobre carreira pode ser mais longo. Depois nós poderemos continuar discutindo o assunto, mas se queremos alguma coisa para 2012 teremos apenas este prazo. O que tiver consenso, a gente resolve já”, apontou Duvanier Paiva, secretário de Relações Sindicais do MP, durante o encontro.

A contraproposta apresentada pelo ANDES-SN está articulada com um dos sete eixos presentes na pauta geral dos servidores públicos federais que reivindica “Política Salarial permanente, com reposição inflacionária, valorização do salário base e incorporação das gratificações”, e sinaliza a negociação em torno do conteúdo apresentado abaixo.

O documento enviado ao MP e ao Ministério da Educação (MEC/Sesu) destaca também “a necessidade de manter em aberto o debate a respeito dos demais itens da pauta apresentada pelo ANDES-SN, e de intensificar o processo de negociações sobre a reestruturação da carreira docente como um todo”.

• Incorporar as gratificações ao vencimento de forma a garantir remuneração integral e uniforme do trabalho prestado pelo professor de mesmo nível da carreira, mesmo regime e mesma titulação;

• Piso remuneratório de R$2.196,74 (valor do salário mínimo calculado pelo DIEESE para 1º de janeiro de 2011) para docente graduado, em regime de trabalho semanal de 20h, na posição inicial na carreira;

• Interstício de 5% entre os níveis da carreira;

• Relação entre os regimes de trabalho que importe em acréscimo de 100% para o regime de trabalho de 40h, e de 210% para o regime de Dedicação Exclusiva, tendo como referência o regime de trabalho de 20h, integrando a remuneração unificada;

• Acréscimos relativos à titulação de 75% para Doutorado/Livre Docente, 37,5% para Mestrado, 18% para especialização, 7,5% para aperfeiçoamento, integrando a remuneração unificada;

• Paridade e integralidade para os aposentados, reposicionamento de forma a resguardar a posição do docente em relação ao topo da carreira na data da aposentadoria e garantia dos direitos decorrentes da aplicação do artigo 192, da Lei 8.112/90 (RJU) aos docentes que se aposentaram até 1997 e seus pensionistas.

Mobilização

O próximo encontro entre o ANDES-SN e o governo está marcado para o dia 2/8, às 15 horas. Conforme deliberação do 56º Conad, o Sindicato Nacional já convidou as seções sindicais a enviar representantes para concentração com faixas e bandeiras, além de outros materiais que marquem a presença na frente do Ministério de Planejamento, onde acontecerá o encontro.

Foi produzido ainda um Informandes Especial para o Setor das Federais com informações que possam dar subsídio para o debate nas seções sindicais acerca da necessidade de construção da greve, caso as negociações com o governo não avancem.

Fonte: ANDES-SN

Líder da oposição, Associação Nacional de Jornais defende impunidade para a publicação de mentiras e calúnias (27jul2011)

Postagem do Blog do Passarinho Pentelhão datada de 23 de julho de 2011.

ANJ, aquela que se acha no dever de fazer oposição ao Governo Federal, mente tentando transformar o 'crime de calúnia' do jornalista equatoriano em 'crime de opinião'!!! ANJ, tu é muito cara de pau!!!

Ainda o caso do jornalista condenado por calúnia no Equador. Depois do escandalozinho corporativo de ontem com a defesa, em uma página inteira, do direito da imprensa mentir sem ser punida, algo parecido com o que ocorre no Brasil, o jornal O Globo de hoje, dia 23/07/2011, sossegou um pouco o facho e publicou uma matéria com menos de um quarto de página.

Bem, passaríamos direto não fosse nos depararmos com a participação da Associação Nacional de Jornais (ANJ). Sim, aquela mesma cuja presidenta, a Sra. Judith Brito, diretora da Folha de S. Paulo, declarou que a imprensa deveria assumir o papel da oposição, que, coitadinha, estava muito debilitada em sua opinião. Vejamos o trecho com a participação da entidade militante:
No Brasil, a ANJ lembrou "que a aplicação de penas de prisão para delitos de opinião é uma prática autoritária que tem sido revogada pelos países democráticos". "Mais que punir supostos delitos, a medida visa intimidar os meios de comunicação daquele país por meio de uma sentença incumprível, mas supostamente exemplar", assegurou.
Ai, ai, ai, ai, ai!!! Além de militante é uma entidade mentirosa! Quem está falando de "delito de opinião"??? O jornalista equatoriano Emilio Palacio está sendo julgado por acusar o presidente equatoriano Rafael Correa de ter ordenado fogo contra um hospital, o que ele nega. Opinião é uma coisa, acusação outra bem diferente!!!

Vejamos o que nossa amiga Míriam Leitão falou hoje em sua coluna:
"A estrutura de transportes no Brasil é calamitosa e produz estatísticas aterradoras de mortes e perdas econômicas."
Mesmo em artigo em que nossa patronesse do Partido da Imprensa Urubu (PIU) dá um voto de confiança a Dilma no combate à corrupção, encontramos tais sentenças. Ela faz isso há oito anos e meio. Contra esta conduta, empreendemos o bom combate político, brincamos, sacaneamos, mas jamais pedimos punição! Porque Míriam Leitão tem todo o direito de achar que está tudo errado, de achar que nada vai dar certo, de achar o que ela quiser. Mas não tem o direito de acusar sem provas!!! Não tem o direito de dizer, por exemplo, hipoteticamente falando, que Dilma deu ordens para que o exército abrisse fogo contra um hospital!!! Isso não seria, é claro, uma opinião e sim uma acusação! Uma acusação grave!!! Neste caso, sim, o normal é que ela fosse punida.

Mas Pentelhão, como é que você sabe que o jornalista equatoriano está mentindo??? Resposta: não sei.

E nem tenho que saber! Cabe a quem faz uma grave acusação ter certeza do que está falando. E mais, ter provas da acusação que está fazendo. Ou não??? E aí, podemos especular, se o Sr. Palacio tivesse provas, já as teria apresentado e não só não seria condenado, como o presidente Rafael correa ficaria com problemas sérios para se manter no posto.

Portanto, querida ANJ - o jornal não informa quem falou pela Instituição militante -, não minta em sua defesa corporativista do jornalista equatoriano. Não fale em "delito de opinião", pois não é por ter emitido uma opinião que ele está sendo julgado. Em último caso, tenha coragem e defenda o direito da imprensa fazer a acusação que quiser, tendo ou não provas, sem receber nenhum tipo de punição. É mais ou menos o paraíso! É mais ou menos o que existe no Brasil!

Lula ficou devendo a regulamentação da mídia.

Abraços, Passarinho Pentelhão.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Governo não negocia com servidores federais e a greve deverá ser o instrumento de luta da categoria (22jul2011)

Governo nega reajuste aos SPF e diz que só negocia pautas específicas

Por Renata Maffezoli
ANDES-SN

Os servidores públicos federais (SPF) enfrentaram nesta quinta-feira (21/7) mais uma reunião infrutífera com o Ministério do Planejamento (MP), na tentativa de fazer avançar as negociações da pauta geral protocolada pelo Fórum de Entidades dos Servidores Federais, em fevereiro de 2011.

Durante a reunião, o secretário de Relações Sindicais do MP, Duvanier Paiva, deixou claro que o governo não irá atender às reivindicações gerais e irá apenas negociar as pautas específicas apresentadas pelas diferentes categorias dos SPF.

“Duvanier declarou com todas as letras que o reajuste geral será zero. Pior, nem fala a respeito de 2011, mas já de 2012. Disse também que não vai discutir reajuste, nem política salarial na mesa com o fórum de entidades”, relatou o 1º vice-presidente do ANDES-SN, Luiz Henrique Schuch, que participou da reunião no MP.

Ainda segundo o diretor do ANDES-SN, o representante do MP não apontou com quais parâmetros o governo vai tratar as pautas específicas, esquivando-se de definir um montante financeiro e também os critérios para a negociação.

Construção da greve

Em reunião que antecedeu o encontro no MP, os representantes das entidades que compõem o Fórum indicaram a necessidade de construção de uma greve dos servidores federais para agosto, caso o governo viesse protelar mais uma vez a negociação.

Indignados com a negativa do governo em tratar das reivindicações gerais, os representantes do SPF já agendaram um encontro para segunda-feira (25/7), para avaliar de forma mais aprofundada o resultado da reunião com Duvanier e traçar um panorama de ações imediatas, com possível paralisação a partir do próximo mês.

Fonte: ANDES-SN

Servidores federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica preparam-se para deflagração da greve a partir de 1º de agosto (22jul2011)

Notícia do sítio do ANDES-SN, de 20 de julho de 2011.

Servidores(as) da rede federal de ensino em greve a partir de 1º de agosto

Por Monalisa Resende

O Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe), fechou neste sábado (16 de julho) os últimos preparativos para a deflagração da greve em suas bases a partir de 1º de agosto. Nas votações, não houve delegados/as contrários à deflagração do movimento grevista dos trabalhadores e trabalhadoras da educação que atuam nas instituições da rede federal de ensino (Institutos Federais de Educação, Cefet’s, Colégio Pedro II, e outros).

A plenária contou com a participação de 40 seções e/ou sindicatos, 54 delegados/as e 31 observadores/as, também estiveram presentes representantes da Federação de Sindicatos de Trabalhadores em Educação das Universidades Brasileiras (Fasubra), Luiz Antônio, e da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef), Neide Solimões. Com a pauta voltada apenas para a greve, os informes e a análise de conjuntura tiveram falas esclarecedoras sobre o tema. A Direção Nacional informou sobre as audiências realizadas com o governo (MEC e MPOG), onde não foram apresentadas respostas formais à pauta de reivindicações protocolada em 17 de maio de 2011. O debate principal, com objetivo de organizar os detalhes para a greve, teve boa participação de delegados/as e observadores/as, que apresentaram sugestões de atividades de greve que refletem as necessidades de cada base representada.

Confira os encaminhamentos da 101ª Plena do Sinasefe a respeito da greve:

Greve

1. Deflagrar a greve nas bases do Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (SINASEFE) em 1º de agosto de 2011, com a realização de rodadas de Assembleias nas Bases para esta deflagração até o dia 10 de agosto de 2011. As bases que não conseguirem a deflagração até o dia 10 receberão todo apoio da Direção Nacional e do Comando Nacional de Greve para conseguirem fazê-lo mesmo depois desse período;

2. Realizar a 102ª Plena do Sinasefe dias 20 e 21 de agosto de 2011 para avaliar e dar continuidade à construção da greve.

3. Comando Nacional de Greve do Sinasefe:
O Comando Nacional de Greve do Sinasefe (CNG) será instalado dia 10 de agosto de 2011.

Sua composição se dará com um/a representante indicado/a por cada base em greve. A Direção Nacional vai custear as despesas de alimentação e hospedagem de todos/as. E no caso das seções com até 200 filiados/as irá custear também as despesas com o deslocamento para Brasília;

A 101ª Plena decidiu encaminhar sugestões de atividades para que o Comando Nacional de Greve venha debater e implementar (manifestações, panfletagens, estratégias de comunicação, etc);

Durante a greve é o Comando Nacional de Greve do Sinasefe quem tomará as decisões relativas à greve. A Direção Nacional permanece à frente da entidade nas questões administrativas, com a Coordenação Geral participando do Comando e das negociações da greve;
4. Pauta de reivindicações:
Incluir na pauta de reivindicações do Sinasefe o reajuste emergencial de 14,67% (inflação – IPCA – + variação do PIB); e a destinação de 10% do PIB para a Educação Pública;
5. Material de comunicação da greve:
- Boletim de construção da Greve;

- Cartilha da greve (tratando do direito à greve para servidores em estágio probatório e profissionais com contrato temporário);

- Carta Aberta à População e às Comunidades Escolares falando dos motivos da Greve e das nossas reivindicações;

- Ofício à Ministra do Planejamento e Ministro da Educação, bem como aos Reitores e Diretores Gerais de Campis, para atender às determinações do STF sobre o direito de greve e as necessidades essenciais de setores públicos;

- A DN irá elaborar e enviar todo o material até o final do mês de julho para que as Bases possam dar ampla divulgação;

- O Sinasefe irá usar a internet e as Redes Sociais para divulgação da greve.

Fonte: SINASEFE

Regredir sempre foi especialidade da direita (Flávio Aguiar) (22jul2011)

Vai, mas vai mesmo (Ataulfo Alves)
Nora Ney


Ainda em férias, posto hoje de Bebedouro-SP, minha cidade natal, onde estou com minha família para curtir o ninho. Aqui o acesso à internet não é pleno, pois meu mano não tem como pagar (ainda) pelo acesso.

Mas neste momento, na casa de uma sobrinha, volto ao contato com a blogosfera e com as informações que considero mais confiáveis sobre o que se passa no mundo.

Li hoje a coluna do professor Flávio Aguiar, na Carta Maior, e gostei de sua análise, e a compartilho com a rede, como fator de multiplicação, propagação.

Notícias do Brasil...

Na falta de outra opção, a direita estaria em busca do esvaziamento de Dilma para forçar Lula a se candidatar, e então derrotá-lo, nesse plano meio maluco de fazer o calendário voltar a 2002. Nada surpreendente. Regredir sempre foi especialidade da direita

Por Flávio Aguiar, correspondente internacional da Carta Maior em Berlim, matéria postada no sítio (acessar por aqui) datada de 22 de julho de 2011.

Começo me desculpando com os leitores da Carta Maior, pela prolongada ausência. O que a provocou foi, de começo, uma curta viagem ao Brasil, por obrigações profissionais e prazeres familiares. Depois, a ausência prolongou-se pelo retorno a Berlim, a retomada de atividades, planos, etc., e num clima estival de férias generalizadas, porque aqui é alto verão (meio friozito e chuvoso nos últimos dias...).

Também levei algum tempo para “digerir” a viagem e seus ensinamentos. É claro que acompanho o Brasil assiduamente pela internet. Mas a presença física é outra coisa. A passagem, embora rápida, me demonstrou algumas coisas.

A primeira delas, bastante aguda, é a falta de um discurso alternativo ao do governo – seja pela esquerda, seja pela direita. Aparentemente por falta de opções tanto um quanto outro batem na mesma tecla, a da corrupção. E lamentam que a população não se mobilize nas ruas contra esse novo “mar de lama” que assola o país.

Não fico feliz com isso, como já deixei claro algumas vezes nesta coluna. Essa falta de discurso empobrece o debate, decididamente não estimula a esquerda que está no governo a aprofundar o pensamento. Estimula isso sim uma espécie de alienação que se pode detectar na própria direita, graças aos comentários irados, tendendo ao desaforo, que povoam blogs, sites e páginas na internet. Como os que acabo de ler agora com sandices tresloucadas sobre a morte de Salvador Allende, como se ele não passasse de um covarde stalinista asqueroso, não a vítima central entre as tantas provocadas por uma ditadura sanguinária – ela sim covarde – de Pinochet.

O Brasil em que essas pessoas vivem decididamente não é o mesmo em que eu vivi recentemente e que agora acompanho, ainda que de longe – para não falar do próprio mundo. Dou como exemplo o Chile, descrito por essas pessoas como um paraíso criado pela ditadura, enquanto milhares de estudantes saem às ruas para protestar contra o ensino privatizado e a desigualdade cresce, enquanto em outras países diminui, inclusive no nosso. Essa alienação foi notavelmente impulsionada a partir da campanha presidencial de José Serra, que, na verdade sem programa nem luz própria, limitou-se a reunir atrás de si o que de mais reacionário e conservador havia na política brasileira, de bispos católicos alucinados a uma extrema direita cavernosa, saudosa dos tempos dourados da tortura e dos apagões como metodologia política anti-esquerda. Uma pena. O Brasil merecia uma outra direita. Ou vai ver que não, porque essa direita não faz jus a um país com as potencialidades do Brasil.

Isso me leva a um outro capítulo – o segundo – que me despertou a atenção. Fiquei muito impressionado com duas entrevistas que li por esse tempo. A primeira foi de Fernando Henrique Cardoso, declarando, entre outras coisas, que fez muito bem em manter “uma certa neutralidade” durante a eleição passada. Penso que FHC não expressou nada de novo, apenas deu voz ao desconforto que o PSDB enfrentou em relação a seu próprio candidato. Aécio Neves, em Minas, apesar dos possíveis protestos em contrário, também manteve uma “relativa neutralidade”. Mas a declaração de FHC, agora, fora do período eleitoral de 2010, quando já se vislumbram alternativas para 2012 e 2014, chama a atenção, sinalizando que o desconforto só se ampliou. Coisa que a atitude fria da direção do seu partido em relação à última missiva de Serra só veio confirmar.

A outra entrevista, essa mais recente, foi de José Serra, dizendo que seu sonho – seu objetivo – é derrotar Lula em 2014. Essa me apanhou desprevenido. É claro que já sei que a nossa direita continua não engolindo Lula, assim como ficou 50 anos sem engolir Vargas – especialmente o segundo (ou terá sido o enésimo?) Vargas de 50/54. É claro também que a nossa direita não agüenta a popularidade mundial de Lula nem o novo papel de protagonista que o Brasil assumiu no cenário internacional desde seu primeiro mandato. É cristalino que a direita não conseguiu assimilar ainda o esboroamento de seu programa em nível nacional, continental e mundial. Aliás, isso não é nada original. Aqui na Europa o pensamento hegemônico não consegue imaginar nada além de seus credos ortodoxos para enfrentar uma crise que sua própria ortodoxia provocou. Ficam dançando em cima de pontas de facas tentando remediar uma sangria das economias nacionais em direção ao sistema bancário que não tem fim, seja de uma maneira catastrófica como nos países mais frágeis, seja de maneira ordenada em países mais fortes.

Agora, que um possível candidato levante essa bandeira em direção a 2014 significa que ele procura capitalizar atrás de si, como capital contra seus correligionários concorrentes, o revanchismo histórico como bandeira de luta. Ou seja, na falta de outra opção, a direita estaria em busca do esvaziamento de Dilma para forçar Lula a se candidatar, e então derrotá-lo, nesse plano meio maluco de fazer o calendário voltar a 2002.

Bom, mas regredir sempre foi especialidade da direita. Nada surpreendente, pois, nestas notícias do Brasil...