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Geólogo e professor aposentado, trabalho este espaço como se participasse da confecção de um imenso tapete persa. Cada blogueiro e cada sitiante vai fazendo o seu pedaço. A minha parte vai contando de mim e de como vejo as coisas. Quando me afasto para ver em perspectiva, aprendo mais de mim, com todas as partes juntas. Cada detalhe é parte de um todo que se reconstitui e se metamorfoseia a cada momento do fazer. Ver, rever, refletir, fazer, pensar, mudar, fazer diferente... Não necessariamente melhor, mas diferente, para refazer e rever e refletir e... Ninguém sabe para onde isso leva, mas sei que não estou parado e que não tenho medo de colaborar com umas quadrículas na tecedura desse multifacetado tapete de incontáveis parceiros tapeceiros mundo afora.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Capitalismo selvagem? Não! Cínico e debochado, isso sim! (9jun2011)

Lá vou eu a me meter em assunto teoricamente fora de minha alçada. Mas estou no mundo e senti necessidade de falar do mundo em que vivo. Perdoem-me os puristas, os teóricos, os analistas abalizados, mas vou dar meus pitacos. Liberdade de expressão, certo?

Imagine só. Europa e Estados Unidos deslocando-se vertiginosamente para a direita. A América Latina caminhando levemente para a esquerda ou centro-esquerda.

Alguém poderá dizer que a América Latina nada perde com isso. Que o problema estã com eles, no norte.

Problema deles? A qualquer momento eles podem achar que a única saída para suas crises está nos recursos da América Latina. E aí será mais um baita problema para o lado de cá.

A guinada deles para a direita não seria algo que se poderia esperar dos povos "civilizados" do norte. Eles estão caminhando tal qual gado que vai para o matadouro. Colocam seu futuro nas mãos dos interesses do capital. Interesses que aprofundam as reformas que retiram direitos básicos adquiridos pela população em séculos de lutas. E isso com os votos dessa mesma população. Ao invés de lutarem por alternativas ao pensamento neoliberal dominante, a proposta que se lhes apresenta é a de jogar a culpa da crise em imigrantes, no outro. O capital vai se deliciar enquanto as pessoas se matarem umas às outras por causa da etnia, da religião etc. Vai até lucrar vendendo armas, equipamentos de segurança e outros quetais.

É constrangedor ver os europeus perdendo aquela aura de civilidade. Diante da crise atiram no próprio pé, votando nos partidos de direita que sabidamente vão aprofundar a crise. Isso é difícil de entender.

Os movimentos de rua, acampamentos, passeatas, que me pareciam ser o nascedouro de uma reação a esse estado de coisas, parecem estar esfriando por falta de objetividade e, provavelmente, com um empurrãozinho da mídia.

Aí volto para a América Latina. O povo latino-americano vem apostando em alterações de rumo na política. Mudanças em sentido oposto ao escolhido pelos "civilizados" do norte.

O problema é que o norte tem poderio econômico e bélico. Se passarem a entender que aqui começa a haver um pouco mais de soberania e um pouco menos de vassalagem, com a gradual retomada da autodeterminação dos povos, o que farão eles? É meio caminho andado para que sejamos incluídos, de alguma maneira, em um "eixo do mal", como refúgio de terroristas ou qualquer coisa do gênero. Pronto! O prato está feito. Intervenção militar com o contumaz dócil apoio do Conselho de Segurança da ONU. Acrescente-se o sempre disponível aplauso dos nossos supernacionalistas órgãos de comunicação e da nossa elite que se acha americano-europeia, para quem o povo só serve para fazer trabalhos braçais e para servir os ricos. Por isso a minha preocupação com o que ocorre fora daqui. Já vi diversos comentários na internet do tipo "eles que se danem, o problema é deles e não temos nada a ver com isso".

Entretanto, mesmo estando o norte se movendo para a direita e o sul para a esquerda, o planeta não vai se descolar em dois pedaços estanques. Tudo é uma nave só. Tudo está conectado, e ultimamente parece que a lei do mais forte começa a ganhar novo ímpeto. Nessa equação norte-sul, o sul é frágil e sempre foi considerado como o quintal dos "civilizados" do norte. América do Sul, quintal dos EUA. África, quintal da Europa e, agora mais fortemente, bomba de gasolina dos EUA.

Fico na torcida para que o povo - povo de verdade, gente - do norte acorde para as absurdas imposições do poderio econômico internacional e retome sua "civilidade" com o respeito à alteridade, ao diferente, resgatando suas conquistas históricas. Espero que o povo saia mais às ruas para gritar por reaver seus direitos surrupiados em prol dos grandes bancos e congêneres.

A continuar essa insensatez de hoje, logo logo o sul será a bola da vez. Aí não sei se haverá, pelo menos no Brasil, condições de o povo ir às ruas para lutar pelo que é seu. A despolitização e a identificação intencionalmente construída entre política e safadeza tornam muitas pessoas apáticas, desconhecendo ou não assumindo seu papel de sujeitos nessa história. Enquanto os BBBs e os JNs continuarem a dizer que tudo está bem e enquanto for ouvido o reconfortante plim-plim soando pelos lares do Brasil, tudo parecerá estar bem, mesmo que o patrimônio do povo esteja se esvaindo diante de seus olhos.

Cada cidadão tem que se assumir como ser político e atuar em sua esfera de influência. Enquanto distribuem espelhinhos, distrações e bugingangas aos "seres primitivos" do sul (churrasquinho, cerveja, futebol, jogos eletrônicos, celulares, ipods, ipads etc), os "seres civilizados" do norte podem carregar todo o resto. Desde os recursos naturais e energéticos, incluindo a estratégica água potável, até a laje do churrasquinho. Basta manter o povo "despolitizado", não é PiG?

Há que se observar o que ocorre agora no norte da África e no Oriente Médio. Povo de ditador inimigo é cidadão pacífico e tem que ser protegido por forças militares internacionais. Povo de ditador amigo que se lixe, pois se trata de vândalos que querem desestabilizar a boa ordem. Com esse rótulo na testa, eles podem ser assassinados. A vida das pessoas vale muito pouco. Não são vidas o que se busca proteger. Todo mundo sabe que são interesses de sobrevivência do voraz e descontrolado aparato das grandes potências econômicas. Ou as vidas no Bahrein valem menos do que as vidas na Líbia?

Quanto valerá para esse sistema a vida de brasileiros, argentinos, paraguaios, uruguaios, venezuelanos, peruanos, equatorianos etc.? O que é que esses bugres estão pensando que são?

Equação simples: vida+submissão=preserva-se, vida+autodeterminação=aniquila-se.

A barbárie está se impondo e se explicitando sem subterfúgios.

A designação capitalismo selvagem ficou lá para trás, porque o adjetivo selvagem não é mais suficiente para caracterizar o que aí está.

Debochado, desavergonhado ou cínico seriam adjetivos mais adequados.

Será que estou exagerando?

A propósito, veja (1) no blog Com Texto Livre: Portugal revela detalhes do pacote após eleição: Ajuda aos bancos e corte em indenizações trabalhistas; (2) no Blog do Miro A perigosa direitização da Europa; (3) no Tijolaço A polícia do mundo; (4) no Viomundo Na Europa, a vitória do partido único.

Quanto ao papel da grande mídia (que na blogosfera é conhecida como Partido da imprensa Golpista - PiG), um exemplo pode ser visto no blog Festival de Besteiras na Imprensa Exaltação e propaganda da Ditadura Militar na Rede Globo (1975).

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